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Texto da entrada (ID.2805)

SEMANA ASTRONOMICA

XXIII

Habitualmente, estas notas profetizam casos celestes para a semana que entra. Hoje, porém, tem que divagar por casos terrestres da semana passada, tristes, indiferentes, ou alegres.

Morreu Camille Flammarion. Apagou-se para sempre este fulgente espirito; ficou paralizada de vez a infatigavel pena que, durante quasi setenta anos, foi sem contestação o factor mais eficaz em criar e divulgar o gosto pelo estudo popular das maravilhas celestes. Numa especialidade geralmente capitulada de pouco acessivel – mas a que ele soube dar uma particular sedução, vencendo e aplanando todas as asperezas do assunto com uma arte inexcedivel – o resultado obtido é simplesmente assombroso, e até agora sem exemplo que de longe sequer lhe possa comparar-se. Em toda a parte tinha penetrado a sua fama; em todas as linguas estão traduzidas as suas obras. Tributemos aqui um preito de respeitosa saudade e de sentida mágoa á memoria imperecivel dêste tão genial, tão fecundo e tão incansavel obreiro do progresso intelectual da bela sciencia astronomica.

Se alguns leitores tivermos, talvez um ou outro estime saber que saiu agora dos prelos da Imprensa Nacional, onde pode ser obtido, o folheto anualmente publicado pelo Observatorio da Tapada, contendo os «Dados Astronomicos para os Almanaques de 1926 para Portugal», com a indicação das fases da Lua, eclipses, nascer e pôr do Sol e da Lua, duração dos crepusculos, e coisas semelhnates que ás vezes se procuram sem saber onde as encontrar com exactidão suficiente.

Ha dias suscitou a dicacidade de um dos nossos mais estimados humoristas a conjunção que anunciámos de Saturno com a Lua. «Honni soit qui mal y pense»! Saturno ainda na Grecia classica era um velho decrepito, mal podendo com a gadanha e com a ampulheta, a meter medo aos ingenuos; e da Lua já Fontenelle disse que, se outrora alguns encantos tivera, hoje só lhe restavam, na face macilenta e enrugada, um nariz e um queixo ponteagudos. Nada ha que recear! Mas quando em Julho que vem estivermos a ver conjunções muito proximas da linda Venus com o guerreiro Marte e com o agil Mercurio, quem sabe?...

Mas basta de mitologias, embora as suas fabulas sejam tantas vezes um mero simbolismo dos factos astronomicos. Hoje estará o nosso satelite á sua maior proximidade de nós, durante esta lunação, e amanha passará junto a Jupiter, três diametros lunares acima dele. No sabado é quarto minguante, e portanto vamos ficando sem luar, que aliás não se conseguiu quasi ver, com a invernia desta quadra, primaveril só de nome.

FREDERICO OOM.


Referência bibliográfica

Frederico Oom - "SEMANA ASTRONOMICA" in Diário de Notícias de 9 de Junho de 1925, nº. 21331, p. 1 (c. 7). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2805.



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