SEMANA ASTRONOMICA
XXIV
É esta a ultima semana da primavera, considerada astronomicamente, pois no domingo será o dia do solsticio, entrando o Sol, ás 22 h. 50 m. no signo de Cancer, no ponto em que fica á sua maior distancia do equador, para o lado do nosso hemisferio. Por isso ainda se lhe chama correntemente solsticio «de verão», reminiscencia da importancia preponderante que o hemisferio boreal tinha entre os povos cultos. Mas com a arrogancia que tomaram hoje as potencias austrais [–] o Brasil, a Argentina, a Australia, a União Sul-Africana – já se vai acentuando uma forte tendencia de lá inverterem essa designação, e nos seus almanaques chamarem despejadamente «inverno» ao periodo do ano que por cá designamos como «verão». Os alemães, sempre meticulosos e precisos, costumam já usar o termo «Nordsommer» (verão do norte) quando se referem ao periodo em que a declinação do Sol é boreal; e «Nordwinter» (inverno do norte) quando este astro anda no hemisferio austral.
A celebração do solsticio era antigamente, em variadissimas regiões, um objecto de grandes solenidades, geralmente relacionadas com o culto e com cerimonias religiosas. Com efeito, deve-se recordar que era esse, primitivamente – e ainda durante muitas gerações, já mesmo nos periodos historicos relativamente recentes – o unico meio conhecido, de fixar o comprimento do ano, e muitas vezes a data do seu começo. A observação mais simples que os povos primitivos podiam fazer a tal respeito, era notar, dia a dia, o ponto do horizonte em que o Sol nascia.
Como se sabe, este ponto vai mudando cada manhã; no dia do equinoxio é exactamente a Léste. Se vamos para o verão, nas nossas latitudes, esse ponto vai mudando constantemente mais para o Norte; o que corresponde a dias mais compridos, e Sol culminando mais alto. Perto dos equinoxios, essa mudança é rapida, e a diferença grande, de um dia para o outro. Mas depois, vai variando cada vez menos, até que numa certa data, deixa de avançar e passa em seguida a retrogradar.
Evidentemente tal data é a do solsticio, e entre os povos agricultores, que dependiam em elevado grau das estações do ano, para realizar as suas culturas e colheitas, o conhecimento desse periodo anual era indispensavel; sabemos por exemplo que na antiga Roma, a despeito de um calendario absurdo e tumultuariamente regulado antes da reforma de Julio Cesar, o ano agricola era já quasi rigorosamente solar, baseado nos solsticios. Mais cedo ainda o foi no Egipto, onde as cheias do Nilo, das quais dependia toda a vida nacional, tinham sempre lugar em periodos de importancia capital determinar com antecipação.
Em toda a parte, nos povos de onde proviemos, ou nos inspirámos, a celebração do solsticio era objecto de extrema solicitude e motivo de extraordinarias festividades. Para a sua notificação rapida serviam sobretudo sinais opticos com grandes fogueiras, cujo vestigio tradicional ainda hoje é indelevel em toda a nossa gente.
Mas o solsticio dá para muito, e fica o resto para depois.
FREDERICO OOM.