SEMANA ASTRONOMICA
XXV
O dia de amanhã será o mais comprido do ano, tendo de duração quasi quinze horas nas nossas latitudes. A noite – com 9 h. 7 m. apenas – será pois a mais curta de todas. É a celebre noite de encantamentos e lendas, que em todos os povos vemos repetir-se; a noite a que os ingleses chamam com propriedade «Midsummer night», tornado este nome famoso pela celebre força de Shakespeare, «Midsummer Nights Dream», que os franceses e italianos traduziram simplesmente como «Sonho de uma noite de verão», mas que o nosso grande Castilho, sempre purista e vernaculo, traduziu por «Sonho de uma noite de S. João». Com efeito, essa noite de sonhos breves e fantasticos, não é qualquer, mais ou menos tepida e amena; é precisamente a noite fatidica mais curta de todas, em que as fadas, as mouras encantadas, quebrando o seu fadario, se patenteavam aos simples mortais, consentindo em lhes revelar os segredos do futuro.
Esta data tem sido origem de um constante culto, não já sómente nas epocas historicas, mas ainda nas que apenas nos deixaram vestigios arqueologicos, hoje laboriosamente decifrados ou interpretados. Como exemplo frizante citaremos a celebre estação inglesa de Stonehenge, onde, no centro de um profuso sistema de megalitos, se ergue uma especie de altar do qual se enfia a vista por uma longa avenida orientada na direcção exacta em que nascia o Sol no dia do solsticio de verão, na epoca em que se supõe terem sido erigidas essas pedras. E lá no fim dessa avenida, projectando-se no céu, um outro grande monolito define ainda mais rigorosamente esse ponto exacto, como o ponto de mira de uma espingarda define a sua pontaria.
Estas celebrações do solsticio perderam com o decorrer dos tempos a sua razão de ser primitiva, e o seu caracter especial. Mas a tradição humana é tenaz e invencivel; e o que é certo é que através das mais variadas modalidades, cá a temos tido sempre, e ainda hoje, entre nós, a noite de S. João – quer queiram, quer não! – é celebrada ruidosamente com intensa alegria pelas populações, sobretudo rurais, de todo o país.
Outra manifestação anual ao solsticio é a que regularmente lhe fazem os turistas que em viagens de recreio, metodicamente organizadas e largamente anunciadas, vão ver á Suecia, á Noruega ou á Finlandia o celebre Sol da meia noite. Com efeito, neste dia, basta atingir uma latitude relativamente pouco elevada, para ver, á meia noite, o Sol razar o horizonte norte, sem nunca chegar a esconder-se, espectaculo sensacional e sempre muito procurado por inumeros curiosos vindos de todo o mundo.
E basta de solsticio, que nos tem absorvido tanto espaço, e nem nos permite hoje saudar condignamente o grande exito de profunda significação para o credito scientifico do país, que teve o brilhante e fecundo Congresso de Coimbra, pagina de oiro nos anais da intelectualidade não só portuguesa mas peninsular, e até latina ou mesmo mundial.
FREDERICO OOM.