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Texto da entrada (ID.2815)

CRONICAS MEDICAS

Na praia e na montanha

Por que motivo – perguntará o leitor menos sabido nestas coisas da medicina – por que motivo quererá o medico que eu vá apanhar Sol junto ao mar ou em sitio muito acima do nivel dele? Para expôr o corpo ao Sol vivo, tão quente que mal se aguenta e tão rico de luz que deslumbra, basta fugir das sombras das paredes e das arvores. E os raios de Sol, vindos da mesma origem para toda a terra, têm a mesma composição quer parem nas montanhas, quer desçam ao fundo dos vales, quer iluminem nas praias o quebrar das ondas.

É verdade: os raios de Sol têm a mesma composição em toda a parte. Os homens que estudam fisica aprenderam a decompôr a sua luz branca nas sete côres que a constituem – vermelho, alaranjado, amarelo, verde, azul, anilado e rôxo, e reconheceram tambem que aquem do vermelho e além do rôxo existem raios que não impressionam o nosso orgão visual, que, portanto, não têm côr para nós, mas que manifestam a sua presença por propriedades quimicas e por acção que exercem sobre os organismos, isto é, por propriedades biologicas.

Para tratamento de varias doenças procura-se obter a acção dos raios solares que ficam para além do rôxo, isto é, dos raios ultra-violetas, por serem esses os mais ricos de propriedades biologicas. Conseguimos já utilizar para esse fim outras fontes de luz que nada têm com o Sol; mas não vem isso para o caso, porque é dêste que estamos tratando.

Ora notou-se que os raios infra-vermelhos atenuam os efeitos dos raios ultra-violetas. Uma lampada de quartzo, de vapores de mercurio, quasi não emite raios infra-vermelhos, e por isso ela actua tão intensamente sobre os tecidos. Tenha-se, porém, junto dela uma lampada electrica banal, que é produtora de raios infra-vermelhos. Então já o efeito sobre os tecidos fica prejudicado, por estarem os raios ultra-violetas em presença dos seus antagonistas.

Havendo, portanto, qualquer meio de diminuir a radiação infra-vermelha do Sol, aumentar-se-ão as propriedades terapeuticas dêste. E esse meio existe, realizado pela natureza sem trabalhos do homem, que só os teve em estudar o que a natureza por si propria fizera. Tanto no alto das montanhas como nas praias se realizam condições que libertam a radiação solar duma parte dos raios infra-vermelhos, tornando-a, por isso, particularmente activa.

Nas montanhas e nas praias os raios infra-vermelhos são detidos pelo vapor de agua. Compreende-se bem no ultimo caso, pois é de ver que deve ser humido o ar em contacto com grandes massas de agua. Não é assim nas grandes altitudes; mas aqui a propria secura da atmosfera faz que aumente a evaporação cutanea, constituindo-se em torno do corpo como que uma bainha de vapor de agua impermeavel aos raios infra-vermelhos.

Assim ficam os raios ultra-violetas libertos, em grande parte, dos seus antagonistas, e assim a radiação solar adquire qualidades especiais que utilizamos para fins terapeuticos.

E aqui tem o leitor menos sabido em coisas de medicina por que motivo o seu medico lhe manda fazer curas de Sol ou nas praias ou nas montanhas.

F. MIRA.

(…).

[NOTA - segue-se uma pequena série de respostas a leitores]


Referência bibliográfica

F. Mira - "CRONICAS MEDICAS" in Diário de Notícias de 1 de Julho de 1925, nº. 21353, p. 3 (c. 2). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2815.



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