Amundsen e a conquista do Polo Norte
A aventura do navegador sueco apreciada por Gago Coutinho
O ilustre almirante Gago Coutinho, que a estas horas vem já a caminho de Lisboa, foi entrevistado por um jornal do Rio de Janeiro sobre a aventura do grande navegador sueco Amundsen, tentando alcançar por via aerea o polo norte. O almirante – verdadeira autoridade no assunto – expôs nos seguintes termos a sua opinião sobre as inumeras dificuldades desta nova tentativa:
«Vem a proposito chamar a atenção dos curiosos de aeronautica para as dificuldades de dirigir á bussola um avião – como de resto um navio – nas proximidades, quer do Polo geografico da Terra, quer do seu Polo magnetico.
«É sabido que estes dois polos não coincidem. Assim, o polo magnetico está aproximadamente na longitude 96º de este de Greenwich e na latitude 70 norte, quere [sic] dizer, sobre a Terra de Bafin, Canadá, a cêrca de 2.200 quils. do Polo Norte.
«Nas imediações deste polo magnetico as indicações da bussola são vagas ou nulas e não permitem um bom governo, tendo-se, por isso, construido aparelhos especiais de direcção, por meio do Sol.
«Por outro lado, as observações astronomicas tambem podem falhar, porque no polo, como é sabido, os astros têm uma altura constante e portanto de nada serve medi-la a sextante em comparação com a hora dos cronometros, como sóe [sic] fazerem os oficiais a bordo dos navios na navegação usual do mar.
«Por esta razão, quando Amundsen, na sua viagem ao Polo Sul, quis identificar a sua posição, teve que recorrer a observações de alturas do Sol, a sextante, repetidas de hora em hora, durante 24 horas.
«Tal processo, porém, não é praticavel a bordo de um aeroplano, nos poucos minutos que ele se manteria voando nas proximidades do Polo. Para Amudsen [sic] poder certificar-se de que realmente lá chegou, teria necessidade absoluta de aterrissar (ou «agelissar», isto é, pousar no gelo); ali teria de proceder a observações demoradas. Entre estas observações tem capital importancia uma sondagem através do gelo, para se apurar a profundidade do mar naquele local, isto é, «a que altura abaixo do nivel do gelo, e, portanto, do mar, fica a ponta norte do eixo da Terra».
«É de crêr que Amundsen não tenha levado os pesados instrumentos necessarios, para poder fazer esta sondagem.
«Mesmo não podendo fazer esta experiencia capital, Amundsen terá forçosamente de poisar perto do Polo, para proceder ás outras observações, impossiveis de fazer em vôo, como é impossivel saber, em vôo, se realmente voou sobre o Polo Norte.»
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