Coisas e Loisas
O TEMPO
- Que tempo este! Nem parece que estamos no mês de S. João. Chove, faz frio, não ha sol! Porque é isto, sr. Pedro? interrogou o Chico, desgostoso, por ver transtornado o plano de todas as manhãs dar um passeio pelo campo com o professor, no qual se reuniam o util com o agradavel.
- Não sei bem dizer-te. Quantas pessoas não fazem essa pergunta por motivos mais graves! Todos falam sobre o bom ou mau tempo, mas muitas pessoas não sabem explicar os fenomenos que se passam no ar: vento, chuva, nevoeiro, trovoada, etc.
- É então uma sciencia?
- Sim, chamada «meteorologia», isto é, sciencia dos «meteoros», nome que se dá a esses fenomenos. Lembras-te de haver explicado que o ar, quando quente, ocupa maior espaço, afastando o ar que o cerca, e que quando frio, ocupa menor espaço e deixa um vasio [sic] que o ar proximo vem encher: é esta a causa dos movimentos, das correntes de ar, que se denomina «vento».
- Que nem sempre sopra do mesmo lado – objectou a Aninhas. – É o que eu tenho ouvido dizer.
- E bem. E para saber de que lado sopra inventou-se o «catavento», cuja haste, ás vezes, serve de pára-raios, como tem o palacio da Morgada. Vocês sabem como é: a peça principal do aparelho é uma placa de metal, da forma de um galo, de uma flexa, etc., disposta de modo que, sob o impulso do vento, pode girar livremente em torno da haste. A esta estão fixas duas barras de ferro em forma de cruz e «orientadas» de modo a indicar os pontos cardiais: se a cabeça do galo ou a ponta da flexa está voltada para o norte, é porque desse lado é que vem o vento.
- E de que provém a chuva? interrogou o Chico.
- Já te disse: do vapor da agua contido no ar. Esse vapor de agua, chegando ás regiões elevadas e frias, condensa-se em pequenas bolhas, que, pela sua reunião, constituem as «nuvens»; se a condensação é rapida e abundante, as bolhas formam pequenas gotas que caem: é a chuva. Quando o vapor de agua se condensa perto da terra, as nuvens que se formam constituem o «nevoeiro».
- E qual é a causa das trovoadas? Nestes ultimos dias, todas as tardes, tem feito relampagos e trovões. Não tenho medo, mas confesso que não me é agradavel ouvir trovejar.
- Pois o trovão é inofensivo: o que é para temer é o «raio», aquilo a que o vulgo chama o «fogo do céu». Vou dar-te uma ideia de como se produz o relampago: se friccionarmos, com um pano de lã um pau de lacre, e se o aproximarmos de corpos leves, como, por exemplo, pequenos bocados de papel, o pau de lacre atrai-os. O lacre friccionado adquire, pois, uma nova «força», electriza-se; quando é intensa esta força, ela manifesta-se por uma «faisca», acompanhada de detonação. Pois bem, essas faiscas constituem pequenos relampagos; é a mesma força desenvolvida nas nuvens que produz o raio.
- O pára-raios serve então para nos livrarmos deles? Não é assim? interrompeu o Chico.
- Assim é. Foi Franklin, um dos mais belos espiritos norte-americanos, quem o inventou: Consiste numa longa haste de metal de onde parte uma cadeia ou um cabo de fios de ferro, que mergulha na terra humida ou num poço; se o raio, isto é, a faisca electrica vinda da nuvem, se dirige para uma casa onde haja pára-raios, este serve-lhe de condutor e ela penetra no solo.
Ninguem, pode, portanto, adivinhar o tempo? concluiu o Chico.
- Com efeito, ninguem está habilitado a prever, com segurança, o tempo. Se para prever o tempo provavel para amanhã ou daqui a alguns dias é tão dificil, depende de tantas observações diversas, quanto mais anunciar qual deve ser daqui a semanas, a meses, e até no futuro ano!
[NOTA - Este artigo insere-se na secção infantil do Diário de Notícias, intitulada 'Notícias Miudinho'; contém duas ilustrações]
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