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Texto da entrada (ID.2831)

RAIVA

Sua cura radical – Processo simplicissimo e ao alcance de todos – O alho antidoto natural do virus rabico

II

Não nos iludimos ao supôr que o assunto despertaria vivo interesse. Prova-o o grande numero de cartas e postais dirigidos ao colaborador do «Diario de Noticias», nestas termas, pedindo informações e exortando-o a que prossiga.

Não era preciso isso.

*

O dr. Antonio Ferreira Moutinho, medico pela Escola Medico-Cirurgica do Porto, onde muitos anos exerceu o seu mister, empreendeu fazer a demonstração da cura da raiva pelo alho hortense (allium sativum), requerendo em 7 de Outubro de 1889 ao então presidente da Camara Municipal de Lisboa, Fernando P. Palha Osorio Cabral, que puzesse [sic] á sua disposição uma sala no proprio edificio municipal, para nela poder tratar a hidrofobia ou os simplesmente mordidos por cães danados.

Esse requerimento foi indeferido!

«Os que leram o requerimento do dr. Moutinho, inserto ontem neste jornal (diz «O Seculo», n.º 2.786, de 16 de Outubro desse mesmo ano) sabem que no ano da graça de 1889, sendo Palha (assim está escrito) presidente da Camara Municipal de Lisboa, deu a comissão executiva da mesma Camara, ao supracitado requerimento, o seguinte despacho: – «Indeferido por ser assunto alheio aos serviços mnicipais [sic] e não haver sala disponivel para ceder como requer. 9 de Dezembro de 1880. O presidente, Palha».

Foi nessa ocasião e talvez em consequencia do exposto, que um cidadão J. F. Araujo, se resolveu a publicar o aludido requerimento em folheto, enfeixando nele, ao mesmo tempo, todos os factos relativos á cura da raiva, já então muito conhecidos em jornais do País, como veremos.

O sr. J. M. d’A., de 73 anos, que ainda conheceu o dr. Moutinho, que não é medico nem veterinario, mas residiu muitos anos no Brasil, narrou-nos, ha dias, 3 casos do seu conhecimento, naquela Republica, em que foi completo o exito do tratamento da raiva, pelos alhos, que ele proprio aconselhára.

*

Diz esse antigo folheto:

Em aditamento ás instruções para a cura da hidrofobia, pedimos venia para transcrever o que sobre tão importante assunto «O Seculo» tem publicado, conscio de que lucrarão com isto os n[ossos] leitores e o publico em geral.

Habituado a prestar sempre atenção a coisas sérias, apesar de estranho á sciencia, dispondo apenas dos principios da boa logica, desde que tivemos noticia, ha anos, traduzida de um jornal inglês, da cura pelos alhos (allium sativum) a um homem do campo dominado já pela furia hidrofobica e a muito custo encerrado nesse quarto, onde estavam recolhidos os alhos da colheita, daquele ano, os quais ele pelo impulso irresistivel de morder e ferir, trincou e mastigou até saciar o morbido desejo, caindo depois em sono profundo que durou horas, e acordando banhado em um suor copioso, pediu agua, começando no goso das suas faculdades a falar com todos; não se repetindo mais os acessos, desde logo, aceitando o facto como verdadeiro, facil nos foi concluir que a cura notavel daquele caso de hidrofobia, em tais circunstancias, só podia ser atribuida a uma acção especifica dos alhos sobre o virus rabico.

Sentimos, continua o mesmo folheto, não poder transcrever textualmente a noticia extraida dos jornais ingleses, o que porém podemos afirmar é que ela está ainda na memoria de todos, aliás de muita gente.

Mais tarde soubemos que em França e Espanha se tinham dado casos identicos.

Em 1882 o falecido clinico Vitorino Pereira Dias, de saudosa memoria, publicou no «Comercio do Porto» alguns artigos relativos a pessoas mordidas por cães danados, curadas com o emprego dos alhos, e dessas pessoas, sete foram por ele osbervadas [sic] e tratadas, sendo o «allium sativum» o remedio que lhes aplicou, sendo o mais satisfotorio [sic] o resultado obtido.

As considerações do sr[.] Pereira Dias, as primeiras de que temos noticia, publicadas em Portugal sobre tão delicado assunto, são curiosas. Vid. «Comercio do Porto» n.ºs 62, 101 e 102, ano 1882.

Convencido já nesta epoca o sr. dr. Moutinho da eficacia dos alhos na cura da hidrofobia e desejando tornar bem conhecidos os seus beneficos resultados, deu-se pressa em escrever uns pequenos artigos (jornais «Liberdade», n.º 246, Maio de 1882; «Estandarte Republicano», n.º 33, Outubro 1882 e «Diario Popular», n.º 5.551) congratulando-se com o seu colega e mostrando scientificamente o «porquê» no alho está o verdadeiro antidoto da raiva; tendo nessa ocasião sido informado pelo sr. dr. José Maria da Cunha Seixas, de serem no Oriente usados os alhos como remedio vulgar contra ela. Esta noticia leva-nos a supôr que o emprego dos alhos em padecimentos hidrofobicos na provincia do Minho, é secular, e que tal descoberta nos viria do Oriente nos tempos primitivos das nossas relações com aqueles povos.

Isto nos diz o referido folheto já esgotado, cujo autor, por certo terá falecido, como os medicos a que alude.

A. BARBOSA.

[NOTA . Contém uma ilustração, cuja legenda é: “Cão afectado de raiva mansa”]


Referência bibliográfica

A. Barbosa - "RAIVA" in Diário de Notícias de 13 de Julho de 1925, nº. 21365, p. 6 (c. 4). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2831.



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