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CRONICAS MEDICAS

A Enxaqueca

Já se não usa ter enxaqueca. Noutros tempos, primeiramente sob esta designação, depois sob a francesa, de «migraine», foi moda muito seguida por todas as senhoras que se presavam. As criadas respondiam aos visitantes que a senhora baronesa não recebia porque estava com a sua enxaqueca. E de facto, sózinha no leito, a cabeça sobre o travesseiro de rendas, a fronte comprimida com um lenço ensopado em agua sedativa, lá estava, num quarto silencioso e escuro, a senhora baronesa.

Não creio, porém, que as verdadeiras enxaquecas tenham diminuido. O que havia, quando usar o termo foi de bom tom, era a confusão entre enxaquecas e outras especies de males de que as dôres de cabeça são o mais acentuado sintoma. As perturbações digestivas, por exemplo, estão nesse caso, particularmente as que se acompanham de demora anormal dos alimentos no estomago ou nos intestinos e de prisão de ventre. Essas perturbações digestivas entram como factor frequentissimo para o aparecimento de dôres de cabeça.

Vejamos, fugindo dos termos proprios para melhor compreensão de todos, como um especialista da materia descreveu a forma tipica de enxaqueca num congresso scientifico recente:

O primero sinal da crise pode consistir num estado de depressão ou, pelo contrario, de irritabilidade. Algumas horas depois, começam as perturbações visuais pelo aparecimento, no campo visual, dum ponto negro que rapidamente adquire extensão obscurecendo uma boa parte daquele campo. Em certos casos aparece um ponto brilhante no centro dessa zona escura.

A dôr de cabeça, que se manifesta a seguir, começa frequentemente numa região proxima dum dos olhos, e de aí se estende a metade da cabeça. É uma dôr fixa, sem irradiações, mas de acuidade intoleravel, dando ao doente a impressão de que os ossos vão quebrar-se. Torna-se mais violenta com os ruidos, o movimento ou a luz.

Chegam, por fim, os vomitos, de duração variavel, que aliviam consideravelmente o doente. Este cai em estado de apatia, um abatimento como o que se observa nos casos de enjôo maritimo, e durante esse periodo vai diminuindo a dôr de cabeça, que, finalmente, desaparece, numa crise de sono de algumas horas.

Nem sempre a enxaqueca se revela sob forma tão nitida mas sempre os elementos que a caracterizam consistem em hemicranea, ou seja dôr duma das metades da cabeça, perturbações digestivas, perturbações dos sentidos e modificações do estado psiquico tendendo para a prostração ou para a irritabilidade.

Sobre a causa de doença, ha que considerar, em primeiro lugar, a herança. Depois o sexo, porque a enxaqueca é mais frequente na mulher. Depois a idade, visto que a doença é rara de certas idades por diante. Ha quem diga que a enxaqueca está em relação com os 30 primeiros anos de idade, e que qualquer dôr de cabeça, sejam quais fôrem os sintomas que a acompanhem, que apareça depois dos 40 anos de idade, está ligada a males de outra ordem.

Sobre este assunto da origem da enxaqueca podiamos encher uma pagina do «Diario de Noticias». Atribuiram-na a modificações de substancia cerebral, a aumento da pressão dentro do cranio, a lesões dos musculos do pescoço, a perturbações do calibre dos vasos sanguineos, a desordens no funcionamento das glandulas de secreção interna, ao uso de certos alimentos, a fenomenos nervosos de varia especie, a variações bruscas de temperatura, etc., etc. Creia o leitor: Quando estão em voga muitas maneiras de explicar o que quer que seja, é porque nenhuma dessas maneiras deu ainda boas garantias de certeza.

Ao leitor, porém, se tem enxaqueca, o que principalmente interessa é o tratamento. O dos acessos é nulo ou quasi, porque quaisquer calmantes, a não ser que sejam tomados no inicio da crise, sairão com os vomitos sem ter produzido efeito. Quanto ao tratamento geral da doença, só cabe aqui dizer que a dieta lacto-vegetariana tem dado resultado em muitos casos, mas se tem mostrado ineficaz em muitos outros. Convém evitar quaisquer excessos e emoções[.] Sobre remedios de botica, usam-se os brometos, o luminal e muitos outros, que os medicos vão sucessivamente experimentando porque qualquer deles, eficaz a principio, dentro de pouco tempo, pelo habito que o doente dele toma, deixa de produzir o seu benefico efeito.

F. MIRA.

(…).

[NOTA - segue-se uma série de respostas a leitores]


Referência bibliográfica

F. Mira - "CRONICAS MEDICAS" in Diário de Notícias de 29 de Julho de 1925, nº. 21381, p. 3 (c. 2). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2847.



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