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Texto da entrada (ID.2871)

Em uma das chronicas anteriores aludimos de passagem á existencia de substancia radioactiva na atmosphera. De facto a radioactividade atmospherica não é uma simples previsão philosophica, que aliás era permittida, em vista do reconhecimento da mesma propriedade em uma extrema diversidade de corpos. Efectivamente o radio é um metal raro, rarissimo, mas cuja difusão extrema permitte encontrar pelo menos vestigios da sua acção em toda a parte. As experiencias de Strutt feitas em rochas das mais diversas proveniencias levam a admittir a proporção de 1,4 gramma de radio por um milhão de toneladas. Este calculo é sensivelmente aproximado ao de Eve, que analysou recentemente as rochas de Montréal, encontrando a proporção 1,1 gr por milhão de toneladas, o que mostra ter a repartição do mais caro dos metaes conhecidos bastante regular. Estas e outras investigações p. 2 comfirmam a explicação modernamente dada sobre o poder radioactivo das aguas mineraes, devido á sua passagem pelas rochas radiferas, sem recorrer á hypothese mais primitiva da existencia de massas consideraveis do radio no centro da Terra. Supõe-se que a quantidade deste corpo espalhada no globo terrestre deve ter uma influencia muito grande na distribuição da temperatura, pois que segundo os calculos de Rutherford, a presença de 0,g05 por milhão de toneladas seria suficiente para compensar a perda de calor irradiante da terra.

Mesmo no estado da rarefacção em que se mostra, esta substancia contribue de uma maneira importantissima para o dynamismo que se desenvolve no seio dos elementos.

A emanação do radio fôra precedentemente revelada na atmosphera por Elster e Geitel. Repetindo as experiencias destes, Eve mostrou que uma determinada porção de ar em contacto com o solo pode dar um deposito equivalente ao que daria a emanação de 0gr, 14 de brometo de radio. Eve fez mais; tratou de recolher a emanação do ar e doseou-a por meio de delicadissimos processos de laboratorio, em que a physica se allia á chimica numa intimidade bastante significativa para a unificação philosophica.

É provavel que o estado radioactivo da atmosphera varie e que a experiencia, apesar de conduzida com o mais meticuloso cuidado, seja como tudo que é humano sujeita a erro, mas não é menos verdadeira por isso a influencia radioactiva do envolucro gasoso á qual se podem atribuir, sem extraordinario arrojo de imaginação, especiaes qualidades, que importam talvez ao estudo da salubridade, da climatologia, da meteorologia.

Approximando estes resultados dos obtidos por Strutt e Boltwood, que avalia em 5 a 10 por 100 a parte da emanação que os mineraes deixam escapar para a atmosphera, acha-se que nas camadas mais proximas do solo, numa espessura de 1 a 2 metros, esse producto da decomposição lenta das substancias radiferas é capaz de manter a proporção determinada por Eve.

De futuro virá esta descoberta fornecer a explicação de certos phenomenos chimicos e biologicos, cuja causa é vagamente atribuida ao ar e á luz, sem se conhecer o intimo mechanismo da sua acção.

 


Referência bibliográfica

J. Bettencourt Ferreira - "Pela sciencia - A fixação do azote do ar pelos vegetaes – As descobertas de Berthelot e o seu aproveitamento pela agricultura – Radio-actividade atmospherica – a existencia de emanações desta natureza no ar e a difusão dos corpos radiferos" in Diário dos Açores de 26 de Janeiro de 1909, nº. 5289, p. 1-2 (col. 6; 1). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2871.



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