SEMANA ASTRONOMICA
XXXIII
Nenhum interesse especial, no que respeita á astronomia, nos vai oferecer a semana que entra, pelo menos quanto aos fenomenos cujas leis ela conhece e que pode predizer com segurança absoluta com uma antecipação de milhares de anos. Não quere isto dizer que todos os fenomenos celestes estejam dêste modo sujeitos á tirania de leis eternas que o espirito humano logrou desvendar; muitos deles ainda são imprevistos, tais como a chegada de algum cometa que pela primeira vez nos visita, ou o aparecimento de qualquer estrela nova, lá nos confins do nosso Universo, entre as profundezas estelares da Via Lactea.
Será Lua Nova na quarta-feira, e por isso já quinta ou sexta-feira, de tarde, poderemos ver, pouco depois do pôr do Sol, o delgado crescente lunar, por cuja primeira aparição – como inicio de um novo mês – esperavam atentamente os pontifices romanos dos antigos tempos, e os sacerdotes hebreus ainda muito depois. A forma do crescente, no começo da lunação, faz lembrar um D, segundo a velha regra moremonica [sic] latina de que «a Lua mente», a que já temos aludido, e convém sempre recordar. Tambem a veremos em posição aprumada, com as pontas para a esquerda, conforme a segunda parte do nosso antigo ditado, de nação maritima: «Lua em pé, marinheiro deitado», em contraposição ao que sucede no inverno, tempo geralmente tempestuoso, e em que as pontas ficam mais voltadas para cima.
A diminuição dos dias vai actualmente no maximo, sobretudo á tarde, em que é mais sensivel. Nesta semana já perdem seis minutos de manhã e dez á tarde; portanto, dezasseis minutos ao todo, mais de dois minutos por dia. Desde o dia 23 de junho, que foi o mais comprido do ano, a diferença vai já em hora e meia.
Continuam visiveis ao fechar-se a noite quasi as mesmas constelações que já indicámos, porque anoitecendo cada dia dois minutos mais cedo, isso compensa em parte a aceleração diaria de quatro minutos que as estrelas têm relativamente ao Sol e que faz variar de dia para dia o aspecto do firmamento.
Ao Sul está ainda o Escorpião, tendo á direita a Balança, ou Libra, na qual se vê Saturno, como estrela de primeira grandeza pouco notavel; á esquerda fica o Sagitario e nele refulge o claro Jupiter, cuja intensidade luminosa é equivalente a treze vezes a de Saturno e excede todas as demais. Entre o Escorpião e o Sagitario passa a Via Lactea na sua região mais luminosa e que se supõe ser o centro ou nucleo do nosso Universo estelar. No ocidente ficam Virgo e o Boieiro; no oriente, Pegaso, a Aguia e Andromeda. A Ursa Maior vem descendo para o horizonte oeste e Cassiopeia vai subindo a nordeste.
FREDERICO OOM.
[NOTA - Contém duas ilustrações, cuja legenda é: “Aspecto do céu em meados de agosto, pelas 9 horas da noite”]