Influencia do oleo de azeitona sobre as qualidades do azeite
Li com sumo interesse no ultimo numero do «Noticias Agricola» um artigo, resumindo e apreciando as experiencias realizadas pelo sr. J. Bonnet, director do serviço de oleicultura em Marselha, que comprovaram que o oleo da amendoa da azeitona não tem qualquer gosto acre ou amargo, como alguns afirmam, aliando, pelo contrario, a uma bela côr amarelo claro, um gosto doce e fino e que não exerce influencia prejudicial alguma sobre a qualidade do azeite obtido com esmagamento parcial ou completo do caroço e da amendoa da azeitona. Estes resultados dos ensaios do sr. Bonnet merecem certamente muita atenção e são importantes sob o ponto de vista técnico, mas, para Portugal não oferecem absolutamente novidade alguma. A conclusões perfeitamente identicas chegou-se ha bons 25 a 30 anos, na Estação Quimico Agricola de Lisboa-Belem, em consequencia de estudos efectuados pelo sr. dr. Otto Klein, então colaborador do malogrado agronomo Ramiro Larcher Marçal, certamente, depois de Ferreira Lapa, um dos mais eminentes agronomos que em Portugal se teem [sic] dedicado a estudos laboratoriais de oleicultura. O trabalho do dr. Otto Klein foi publicado no Relatorio Geral do Congresso Nacional de Oleicultura e Industria do Azeite, de 1905, (publicado em 1910) e tanto bastou para que em Portugal ficasse quasi completamente ignorado. O mesmo aconteceu em Espanha.
Quando, ha poucos anos, tive em Madrid ocasião de falar com o insigne elaeologo Don Guillermo Quintanilla, Prof. da Escola Superior de Agronomia e Director da Estação Agronomica Central, sobre a pretendida nocividade do azeite das amendoas de azeitona, verifiquei que o trabalho efectuado na Estação Quimico-Agricola de Lisboa não tinha chegado ao seu conhecimento.
Na Alemanha, sim, os estudos de Ramiro Larcher Marçal e Otto Klein encontraram eco, sendo citados e aproveitados nas revistas técnicas e nos compendios da especialidade.
Não me é possivel, claro está, transcrever na integra o artigo do dr. Klein que é extenso, mas para demonstrar que as observações de Bonnet apenas confirmam o que, muitos anos antes, se tinha constatado em Belem, eis aqui as conclusões do trabalho que copio á letra (pag. 625/6):
I. As propriedades fisico-quimicas atribuidas até hoje ao oleo da amendoa pertencem aos oleos de bagaço.
II. O oleo da amendoa é, no que diz respeito á sua composição e suas propriedades fisico-quimicas, muito semelhante ao oleo da azeitona.
III. O oleo da amendoa é de tão facil conservação como o oleo da azeitona, desde que se observem todas as regras essenciais a este fim.
IV. Pode o oleo da amendoa ser misturado com o oleo da azeitona, ou por outra, a amendoa pode ser esmagada durante a moenda sem receio de prejudicar a qualidade do azeite.
Se é ou não industrialmente vantajoso proceder á moedura «completa» da azeitona, esmagando caroço e amendoa, essa é outra questão e sobre ela o artigo do «Noticias Agricola» borda [sic] umas considerações resumidas que me parecem sumamente judiciosas.
Mas o merito de se terem, pela primeira vez, estudado as propriedades fisicas e quimicas do verdadeiro oleo da amendoa da azeitona por meio de metodos scientificos, esse merito pertence indubitavelmente á Estação Quimico-Agricola de Lisboa.
Em Portugal é crença infantil geral que as crianças vêm da França. Mas será por isso necessario que uma criança, uma vez nascida em Portugal e até publica e oficialmente registada, venha segunda vez da França, para que a sua existencia fique reconhecida?
DR. HUGO MASTBAUM.
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N.R. – É verdade o que diz o dr. Mastbaum a respeito dos trabalhos de Larcher Marçal e Otto Klein.
Por isso dissemos no principio de um artiguinho que o assunto estava ainda em controversia. E afigura-se-nos que continuará ainda por muito tempo. Aos trabalhos daqueles dois agronomos – Larcher Marçal e Otto Klein, já nos referimos em um dos primeiros numeros do «Noticias Agricola».
Hugo Mastbaum - "Influencia do oleo de azeitona sobre as qualidades do azeite"
in Diário de Notícias
de 24 de Agosto de 1925, nº. 21407, p. 5 (c. 2). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2880.