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Texto da entrada (ID.2912)

A mais importante das descobertas scientificas modernas é a do professor Newcomb, notavel astronomo americano. E consiste em certa irregularidade na marcha do tempo. Já Isaac Newton insinuara que a terra vae perdendo paulatinamente, embora d’uma maneira regular, a rapidez de rotação á maneira que os annos se adiantam. Calculada e medida com alguma exactidão tal perda de celeridade demonstrou se que ella vae augmentando com oque um segundo em cada 12 semanas. Quantidade insignificante, parece, mas os astronomos deduziram d’aqui que chegará só uma face ao sol, como a lua o faz hoje com a terra; a vida será então impossivel ou pelo menos triste e desagradavel, como se viajassemos n’uma perpetua noite. E attribuia-se, quasi com todas as probabilidades, a causa ao attrito continuo das marés em volta da terra em direcção opposta á sua rotação. Até agora tudo o que se dizia a que muitos acreditavam. Mas Newcomb trouxe à tela um outro elemento, totalmente novo, depois p. 2 de demoradas investigações a que procedeu no respeitante ao arduo problema de certa differença que se dá entre os movimentos observados na lua e os que se calcula se verificam na mesma. No meio do seu complicadissimo trabalho, obviando difficuldades, tomando ora este ponto de partida, agora aquele, por entre computos sobre computos, o sabio descobriu incidentalmente que a terra, em vez de perder tempo com a regularidade que se lhe julgava, não faz mais que variar, isto é, umas vezes adiantar-se, outras atrazar-se, com a frivolidade que se pode observar n’um relogio americano barato. É opinião sua que “as observações das passagens de Mercurio indicam claramente pequenas variações na rotação da terra e decorridos bastantes annos, attingirão 5 ou talvez 10 segundos”... Se tal cousa se chegar a demonstrar, que desillusão para os astronomos! Sabiam que a terra ia perdendo tempo, mas julgava-se que o fazia com tanta uniformidade como o verifica um bom chronometro. Mas se á sua vontade agora se adianta ou atraza, o que devemos pensar de tudo isto? No que respeita ás outras conclusões do mencionado professor, ellas apresentam vasto campo para que o melhor philosopho se entregue ás mais serias locubrações. Por exemplo: fala-nos que a terra perdia tempo na sua rotação ahi por 1769 e 1789. E a tal respeito pensa um escriptor inglez: “Teria alguma cousa que ver a revolução franceza, com a rapidez com que depois seguiu marchando a terra?” Outra demora se effectuou entre os annos de 1840 e 1864 “sendo depois acompanhada de singular acceleração que persistiu até 1870”. O grito da revolução de 1848 e as guerras da decada seguinte, explicar-se-hiam como uma especie de reacção dos homens, após o periodo de lenta rotação?

Referência bibliográfica

Ruy de Barros - "A terra e os seus habitantes" in Diário dos Açores de 11 de Março de 1909, nº. 5323, p. 1-2 (col. 5-6). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2912.



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