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Texto da entrada (ID.2923)

Lêmos no Dia:

“Como um simples coração humano, como um pobre coração humano, a terra palpita!

Sim, a crosta terrestre tem as suas marés, como o Oceano, cujas aguas, cada dia, se elevam sob a dupla attracção do sol e da lua. Assim como o elemento liquido, os continentes teem o seu fluxo e refluxo.

O solo que pisamos e que imaginavamos immutavel, esta crôsta da terra, de argila e de rocha que serve de trampolim aos nossos miseraveis passos humanos, é animada tambem, duas vezes por dia, por uma palpitação quem alternativamente a eleva ou abaixa uns vinte centimetros pouco mais ou menos. Cada um de nós, sem dar por isso, sobe e desce aquelles centimetros entre dois occasos do sol.

É pelo menos o que affirmam ou confirmam – recentes experiencias de um physico allemão, Heckerm professor no Instituto Geodesico da Prussia. Foi em Potsdam que este sabio conseguiu, parece, demonstrar a realidade d’esta oscillação diurna da vertical, servindo-se de dois pendulos horisontaes, installados a 85 metros de profundidade, n’uma camara onde a temperatura de 11 graus e 7 minutos, e a humidade de 100/100 se mantinham rigorosamente constantes durante todo o ano.

Os desvios que se tratava de medir não attingiam um centesimo de segundo de arco, o que, para um pendulo de um metro de comprimento se traduz por desvios de alguns centesimos de micron, apenas, isto é um pouco menos de millesimo de millimetro. Estes desvios absolutamente invisiveis, poderam ser, por engenhosos artificios, perceptiveis aos nossos sentidos.

Durante mais de vinte e nove mezes, de 1 de dezembro de 1902 até ao fim de abril de 1905, as observações proseguiram sem descanço.

p. 2 Hecker poude differençar a acção attractiva do sol e a acção lunar, e verificou sem possibilidade de duvida, que a crosta terrestre experimentava marés propriamente ditas, eguaes a um terço, pouco mais ou menos, das correspondentes á fluidez absoluta do globo. Se para as marés maritimas se admitte uma amplitude de 50 centimetros, a elevação periodica da crôsta terrestre ultrapassaria 15 centimetros.

Para verificar estes resultados, para se cercar de todas as garantias scientificas possiveis, foi feita um nova serie de observações durante 2 annos, de agosto de 1905, a julho de 1907. Foi uma brilhante confirmação das primeiras observações. Por seu lado, Mr. Lallemand, director do serviço de nivellamento em França, tem verificado esses calculos e acha-os perfeitamente exactos.

A superficie dos continentes é, pois, tambem movel como a do mar. Além dos tremores de terra, cataclysmos cardinaes, o solo está em perpetuo e regular movimento – segundo um rhythmo agora conhecido e verificado.

Se esta palpitação da terra ficou durante tanto tempo ignorada, é porque tudo participa d’este movimento da crôsta. Succede exactamente para os seres ou para as coisas da terra firme o mesmo que para os navios, no Oceano, para os quaes, longe das praias, as marés são insensiveis.

Entretanto, certos sabios já haviam tido o pressentimento do phenomeno. Desde 1837, Antoine d’Abbadie, em França, estudou o problema de saber se a vertical experimentava oscillações. Em 1874, na ilha Campbell, outro sabio, Bouquet de la Grye, empregava com o mesmo fim um pendulo com balanço amplificador. Lorde Kelvin e H. Darwin, em Cambridge, assim como Wolff, do Observatorio de Paris, tentaram descobrir o mysterio, sem comtudo o conseguir. Os resultados obtidos eram quasi insensiveis e muitas vezes contradictorios.

Hoje, a descoberta é certa. Além dos doze movimentos de que a terra está animada, a sciencia acaba de descobrir um decimo terceiro, as marés da crôsta.

Pobre terra, minuscula unidade no systema dos mundos, pobre terra que palpitas como um coração humano, serás tu, por acaso, o coração do Universo?”.


Referência bibliográfica

[n.d.] - "A terra palpita - A crosta terrestre tem as suas marés como o oceano" in Diário dos Açores de 24 de Março de 1909, nº. 5333, p. 1-2 (col. 6; 1). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2923.



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