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Texto da entrada (ID.2940)

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Collocado sob a égide das sciencias physico-naturaes, o conhecimento d’esse fluido gazoso foi tomando proporções crescentes e interessando os physicos eminentes que empregavam as suas vigilias nas descobertas das leis que regem as forças naturaes e na explicação dos phenomenos que surgem á nossa vista, quer cheios de interesse , quer num mixto de curiosidade e surpreza.

Aristoteles que professou, por assim dizer, a sciencia universal, que escreveu a Physica, o Céo, a Meteorologia, a Mecanica, além de muitas obras philosophicas e de sciencia, teve já a desconfiança de que o ar tinha pezo. Não teve, porém, uma prova para garantir a affirmação d’essa verdade, que quasi vinte seculos depois, foi demonstrada por Galileu. Este sabio pesou um balão cheio de ar comprimido. A differença para mais do pezo d’este ultimo revelou que o ar atmospherico é pezado. Hoje, nas lições de physica procede-se d’outro modo. Pesa-se um balão, no interior do qual se tenha feito o vacuo, denota-se d’este modo uma diminuição do peso do mesmo reservatorio, quando está cheio de ar atmospherico.

Esta experiencia tem a vantagem de servir para a determinação do peso d’esse fluido, peso variavel com a temperatura, a altitude e a localidade.

Com effeito, a temperatura assim como dilata os solidos e os liquidos, com maior promptidão e facilidade augmenta o volume dos gazes, e por isso o ar é tanto mais leve, por ser menos abundante, quanto mais quente for. Com a altitude a pressão atmospherica diminue, por isso o ar é mais leve nos logares elevados do que nos baixos.

A localidade tambem influe em virtude dos fornecimentos de outros gazes, como por exemplo o acido carbonico, cuja presença em quantidade exaggerada torna o ar mais pesado, e esse exaggero é notavel na visinhança de officinas, onde as combustões são continuas.

Em Paris, um litro d’ar, a temperatura de 0º, e numa pressão de 76mm dá um peso de 1,293 grammas.

Outra prova de que o ar é pesado reside na noção de pressão atmospherica revelada pela experiencia celebre de Torricelli, que é o barometro reduzido á expressão mais simples e ponto de partida da construcção de todos os outros. Este notavel physico encheu de mercurio um tubo de vidro fechado numa das extremidades e inverteu-o numa tina que continha aquelle mesmo metal. Immediatamente observou que o mercurio desceu um pouco dentro do tubo, formando-se no fundo d’este um espaço vasio que elle calculou logo ser tanto maior quanto menor fosse a pressão atmospherica exercida á superficie da terra. Na verdade, fazendo esta experiencia, com o mesmo tubo e mesmos corpos, sobre a montanha, observou que a descida do mercurio no tubo foi maior.

Lembrâmos, agora, uma observação, que se ouve a muita gente, de que a atmosphera está pesada, sentindo-se mal por essa circumstancia. O que é curioso, porém, é que quando ha logar para essa queixa a atmosphera está mais leve, isto é, a pressão atmospherica é mais fraca, e a queixa, por conseguinte, tem mais razão de ser á medida que vamos subindo para as cumiadas ou em excursões aerostaticas. A explicação do paradoxo encontra-se da desegualdade de pressão exercida á superficie da pelle e da tensão dos liquidos que banham os tecidos organicos e circulam nos canaes que os perfuram e os revestem.

A liquefacção do ar foi realisada por Cailletet em 1877, desfazendo-se a insistencia com que resistia á mudança de estado tantas vezes tentada sem resultado.

As qualidades d’esse gaz que forma um largo envolucro á superficie do globo, estão representadas pela transparencia, ausencia de cheiro, de côr e de sabôr, compressibilidade e elasticidade, má conductibilidade do calor e da electricidade, a não ser que esteja bastante humido.

A esse envolucro, cuja forma provavel é a d’um espheroide ainda mais achatado que a terra, deve a vida a maior parte dos seres dos reinos animal e vegetal, isto é: o mundo da CELLULA simples e necessaria.

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Referência bibliográfica

[n.d.] - "O ar" in Diário dos Açores de 5 de Abril de 1909, nº. 5342, p. 1 (col. 1-2). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2940.



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