Texto da entrada (ID.2967)
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O professor do Museu de Historia Natural de Paris, Estasnislau Mennier, tem a estofa completa do homem de sciencia, parece nada ignorar dos segredos do nosso planeta, e quando fala, como que evoca as terriveis desgraças que enluctarama humanidade.
Entrevistado disse:
- Os tremores de terra constituem sempre um assumpto d’actualidade, e agora mais do que nunca, visto que, desde 28 de dezembro findo, a terra não deixou d’oscillar em Messina e na região que a cerca.
Mas é um erro suppôr que os movimentos sismicos são accidentes, o tremor de terra é um pormenor essencial, uma consequencia absolutamente logica da structura do nosso planeta. N’uma palavra, a terra, tal como é formada, não poderia existir sem abalos sismicos.
É um capitulo da theoria geral da terra, sendo o nosso planeta um verdadeiro organismo no qual todas as funcções teem a sua razão de ser e estão harmoniosamente ligadas umas às outras.
Como se sabe, a terra não passa de uma bola composta de materias fluidas em incandescencia com uma superficie solida extremamente delgada e que estremece como acontece á epiderme humana a cada movimento interno.
Esse calafrio provém do resfriamento do nosso planeta. O centro da terra torna-se menor, contrahe-se, estreita sem mudar de forma, á maneira que vae perdendo o calor.
A superficie solida não pode acompanhar este movimento d’absorpção; falta-lhe ponto d’apoio, ondula, enrola-se e é esse phenomeno muito conhecido que determina os movimentos sismicos.
A primeira serie d’esses phenomenos affectou as regiões do norte, as mais proximas dos polos; depois enrugada vem a creação dos Pyrineos, dos Alpes, dos Karpathos, do Caucaso, do Hymalaia.
No actual momento, a zona dos tremores de terra, está situada na parte mais meridional do globo, interessa particularmente as margens do Mediterraneo, d’oeste a leste, prolongando-se sobre o littoral do continente asiatico.
Assentes estes principios, como é que se pode sobrevir o fim do mundo e que ha a recear?
Pode-se chamar o fim do mundo ao fim da especie humana, e será então exatamente o fim do mundo; pode-se tambem chamar fim do mundo á desapparição material, ao demoronamento, á destruição do nosso planeta.
Abordemos a primeira hypothese.
Quando se estuda a evolução dos seres organisados á superficie do globo, tem-se uma noção muito precisa da historia das especies. Vê-se como ellas appareceram, se desenvolveram, diminuiram e de seguida desappareceram. Cada uma d’essas especies nasce, augmenta, cresce, retrahe-se e desapparece quando se esgotam as forças vivas n’ellas armazenadas. Ora, a historia demonstra que as especies, apesar da sua longa existencia duram pouco, relativamente á existencia da terra.
É, pois, provavel que a especie humana definhará antes da destruição do planeta; diminuirá, esboroar-se-ha pouco a pouco, como aconteceu ás grandes especies que viveram outr’ora.
Accrescenta que não acredita na eventualidade de ver um dia a terra aniquilada em bloco com os seres que a povoam”.
Um homem de sciencia consultado com relação a esses phenomenos no nosso paiz, declarou que a região de Lisboa nada tem a recear. Ha mais de um seculo que a energia sismica desappareceu d’aqui. O periodo dos tremores de terra existe antes mesmo da creação do homem.
Para o estudo do globo n’essa parte ha maravilhosos e infalliveis documentos da geologia comparada dos aerolitos ou pedras cahidas do ceu.
Compare-se o ceu a uma floresta estudando cada typo de arvore, uns ao lado dos outros. Da mesma maneira se póde estudar a historia da terra, nas suas minimas minucias. Vê-se então que ella, ao mesmo tempo que resfria, e por esse motivo, absorve os fluidos que a envolvem, isto é, o oceano e o ar. Passa então a um estado representado no universo pelo planeta Marte onde não resta mais que a metade da superficie coberta pelos mares e uma atmosphera muito transparente, prova da senilidade do planeta. Melhor ainda que Marte a Lua dá o exemplo, visto que ali não ha oceanos nem atmosphera. Outr’ora teve talvez habitantes mas hoje não existem, e é inhabitavel.
Acontece-lhe o mesmo que a um planeta mais antigo, que gravitava entre Marte e Jupiter, convertido em mais de 650 pedaços de um grande mundo desapparecido. Tivemos em volta de nós duas luas.
E hoje, não ha mais do que uma: aquella que, á noite, nos envia os raios do sol.
Está provado que os velhos mundos envelhecem, decompõem-se e morrem como os seres organicos, mas só soffrem esta transformação depois de desapparecerem todos os viventes.
Referência bibliográfica
[n.d.] - "Abalos sismicos"
in Diário dos Açores
de 7 de Maio de 1909, nº. 5367, p. 1 (col. 1-3). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2967.
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