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Entre as tres ilhas de S. Miguel, Terceira e Pico, na região comprehendida dentro de um triangulo tendo por vertices, a oriente a Ponta da Candellaria, quasi no extremo occidental a Ponta oriental do Pico, e ao norte um ponto situado no mar, legua e meia a WNW, da Ponta do Queimado, no extremo NW da Terceira; nesta região teem succedido todas as erupções submarinas conhecidas depois da colonização dos Açores, e até hoje indicadas.
Por ordem chronologica teem sido as seguintes:
Em 3 de julho de 1638, depois de varios tremores de terra, que começaram em 26 de junho, rebentou fogo numa pequena superficie do mar, que em tal ponto tinha 150 braças (274 metros) de profundidade, isto a 2 leguas da Ponte da Ferraria de S. Miguel.
Os productos projectados por este vulcão formaram uma ilha de legua e meia de comprimento, com a altura maxima de 60 braças (100 metos) ilha que pouco depois da erupção desappareceu, ficando ali o mar com a profundidade de 40 braças (73 metros).
No mês de dezembro de 1682 violentos tremores de terra se fizeram sentir em S. Miguel, rebentando fogo na Ferraria, no mar, quasi 4 leguas de terra segundo relata Fr. Agostinho de Mont’Alverne ou tal fogo rebentou no mar, entre S. Miguel e a Terceira de onde foi visto da Villa da Praia, como indica Chaves e Mello na sua Margarita Animada.
Esta erupção succedida entre S. Miguel e a Terceira, mais ou menos proximo das costas de uma das duas ilhas, não formou ilha ou ilheu, mas simplesmente projectou uma tão grande quantidade de pedra-pomes que, segundo ambos os citados escritores, formava uma camada fluctuante tão espessa que impediu a passagem de um barco vindo da Terceira para S. Miguel.
Em dezembro de 1720 novamente entre a Terceira e S. Miguel se formou, devido a uma erupção, uma ilha que desappareceu pelos fins de 1723.
No anno de 1757, a 10 de julho, na ilha de S. Jorge, dia immediato ao de um grande tremor de terra que causou desmoronamentos que determinaram a morte de mil e cincoenta e tres pessoas, levantaram-se do mar junto à costa, quasi no extremo oriental da ilha, dezoito ilhotas, que não tardaram a desapparecer.
A 1 de fevereiro de 1811 uma erupção formou um pequeno ilheu em frente do Pico dos Ginetes, em S. Miguel, a meia legua da costa, ilheu que se submergio no fim de oito dias.
No dia 13 de junho seguinte uma nova erupção, cêrca de 1 legua a oeste do ponto onde houvera a de 1 de fevereiro, erupção muitissimo mais grandiosa que esta, forma a conhecida ilha Sabrina, com cerca de 2000 metros de circunferencia e com 90 metros de altitude maxima, ilha que, acabada de formar a 4 de julho, foi vagarosamente baixando no mar, não havendo de tal região no fim de fevereiro de 1812 senão um baixo do qual ainda então saiam gazes quentes que vinham apparecer ne superficie do mar.
Em 1880 pude determinar, por enfiamentos que me foram marcados por uma testemunha ocular da erupção, a posição do extremo nordeste da Sabrina (que era o mais alto da ilha) sabendo por este modo que as coordenadas geographicas de tal ponto são:
Lat. N. 37º 50’ 0’’
Long. W. G. 25º 55’ 30’’
Finalmente desde o começo de 1867 successivas oscilações do terreno (chegando a haver cincoenta e sete tremores de terra no dia 25 de maio) na Terceira e Graciosa antecederam a erupção vulcanica que se manifestou no mar perto da costa da Terceira, pelas dez horas da noite do primeiro de junho.
A intensidade maxima da erupção succedeu a 5 de junho. Desde então cessou a projecção de grandes pedras e diminuiram pouco a pouco todas as manifestações eruptivas, apparecendo porem ainda a 20 de setembro, naquella região, pequenas bolhas de um gaz rico em oxygenio e com um residuo combustivel, que não foi determinado pelo geologo Fouqué, que então foi mandado aos Açores pela Academia das Sciencias de Paris.
As sondagens effectuadas depois de ter cessado a erupção mostraram que ella não produziu alteração na profundidade do mar, como era de esperar, attendendo á grande projecção de rochas, que se tinha observado.
Apesar de ser tão recente esta erupção, que se manifestou durante dias por modo bem visivel, num ponto proximo da costa onde ha povoações, não são concordes as posições indicadas para o mencionado vulcãom, pois mesmo as coordenadas geographicas dadas pelo então Governador civil de Angra, Gouveia Osorio, e que, segundo elle affirma, foram determinadas poe pessoas competentes taes coordenadas não podem ser verdadeiras.
Foram ellas:
Lat. N 38º 52’
Long. W. G. 27º 52’
Assim o foco eruptivo seria num ponto 9 milhas a SE da Graciosa e 24 milhas a WNW da Terceira, isto é, muito mais proximo da primeira ilha que da Terceira, o que, segundo todas as testemunhas oculares do phenomeno, não succedeu.
Não pude obter a indicação de enfiamentos em terra que pela sua intersecção marcassem pontos de referencia no mar, mas tenho verificado ser quasi concorde a indicação de que a erupção foi a cêrca de 1 e meia legua da Ponta do Queimado, perto da Serreta, na direcção indicada pelo já citado Governador Civil Gouveia Osorio, isto é, ao NW magnetico da Serreta, portanto a WNW verdadeiro da alludida Ponta so Queimado, região na qual em 1899 observei que a declinação magnetica era de 22º 42’ 40’’ W., devendo ser pois aproximadamente de 24º W em 1867.
Conjugando esta direcção e distancia acima mencionada parece que as coordenadas geographicas do centro do foco eruptivo de 1867 devem ser approximadamente:
Lat. N. 38º 47’
Long. W. G. 27º 29’
Recapitulando temos as seguintes erupções:
1ª – Julho de 1638m, a 2 leguas da Ponta da Ferraria de S. Miguel
2ª – Dezembro de 1682, entre esta Ponta da Ferraria e a Terceira
3ª – Dezembro de 1720, entre S. Miguel e a Terceira.
4ª – Julho de 1757, junto à Costa de S. Jorge, perto do extremo oriental da ilha.
5ª – Fevereiro de 1811, em frente do Pico dos Ginetes, cerca de 4 kilometros a E. da Ponta da Ferraria
6ª – Julho de 1811, 1 legua a WSW da mesma Ponta da Ferraria
7ª – Junho de 1867, a 1 e meia legua a WNW da Ponta do Queimada, na Terceira.
Referência bibliográfica
Francisco Afonso Chaves - "Erupções submarinas nos Açores - E a quebra de alguns cabos telegraphicos lançados nos mares do mesmo archipelago"
in Diário dos Açores
de 8 de Maio de 1909, nº. 5368, p. 1 (col. 1-3). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2969.
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