O plano do professor d’uma universidade americana, o cidadão William Pickering para a Terra poder communicar com Marte, consiste em collocar grandes espelhos n’uma superficie de 400 metros quadrados approximadamente, de maneira que a luz possa projectar se em Marte. Vendo essa luz, os marcianos, se forem intelligentes - e o professor americano conta com isso – necessariamente hão-se procurar achar a causa que p. 2 a determina e immediatamente tratarão de estabelecer uma correspondencia que permitta entabolar relações directas... O cidadão William – e ahi é que está o busilis – precisa para pôr em pratica o seu plano nada menos de 50 milhões... ora como a coisa é salgadinha, muito bem pode succeder que o astronomo não consiga coisa alguma, tanto mais quanto muita gente duvida do exito de semelhante tentativa. A idéa de William não é nova. Já Camillo Flammarion a expoz n’um dos seus livros. Depois é preciso que os marcianos sejam intelligentes, e isso é mais do que problematico. Um outro jornal diz que o eminente astronomo Flammarion acha muito viavel a idéa de William, e que está convencido de que ha-de dar os melhores resultados. As experiencias deveriam realisar-se em julho visto n’esse mez estarem os dois planetas em opposição. Diz esse jornal que ha muitos milhares d’annos os habitantes de Marte fizeram signaes para a Terra, e que esta não deu cavaco, o que contribuiu para que os marcianos se convencessem de que o nosso planeta era deshabitado. Sendo repetida a operação sem que de cá correspondessem, abandonaram a idéa de communicar com a Terra, á qual não ligaram até hoje a menor importancia. O astronomo inglez Lowell, alludindo a este caso, diz que Marte está condemnado a desapparecer, como a Terra, e que, por isso, melhor será deixal-o em paz! A isto responde outro astronomo que o aniquilamento da Terra só se effectuará d’aqui a alguns milhares d’annos e que é de toda a conveniencia que se apure qualquer coisa antes de Marte e a Terra ficarem reduzidos á expressão mais simples.

Syll - "Impressões e notas - Marte e a Terra" in Diário dos Açores de 26 de Maio de 1909, nº. 5381, p. 1-2 (col. 6; 1). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2985.

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