Base de Dados CIUHCT

Divulgação Científica em Jornais



Texto da entrada (ID.2994)

(...) A força (inhata ou adquirida) em virtude da qual certos individuos se mostram refractarios a contrahir uma determinada doença, diz-nos o dr. Ernest Schottelins na “Allgemeine Zeitung”, chama-se hoje immunidade. Ignorou-se até ao seculo XIX a natureza intima da immunidade. Só foi possivel obter uma explicação satisfatoria quando, em seguida aos estudos de Pasteur e de Kock se começou a conhecer e a estudar os agentes das doenças infecciosas. Comprehendeu-se então que a immunidade deve considerar-se como uma especie de insensibilidade do organismo contra a acção d’estes agentes. Com estas bases os homens de sciencia procuraram extrahir do organismo dos animaes, immunes ou immunisados contra certas doenças, as substancias anti-bactericas que lhes asseguram a immunidade. O descobrimento mais importantes que de fez, n’esta ordem de ideias, revelou um facto totalmente inesperado: com effeito Behring e Ehrlich demonstraram que no sangue dos animaes immunisados contra a diphteria se encontra uma substancia que opera como um contraveneno especifico contra o veneno produzido pelos bacillos da diphteria, mas não exerce acção alguma sobre os proprios bacillos. Os auctores d’este descobrimento deram o nome de toxina ao veneno que é a causa da doença e anti toxina ao contraveneno correspondente. As applicações praticas d’este descobrimento, sobre o qual se baseia a sorotherapia da diphteria, são muito conhecidas. Em seguida aos trabalhos de Behring e de Ehrlich, os estudos sobre a immunidade contra as doenças infecciosas tomaram nova direcção. Os homens de sciencia entregaram-se á procura dos venenos bactericos para poder em seguida, com o auxilio de estes venenos, determinar a formação dos contravenenos correspondentes no organismo dos animaes, que se havia de empregar na immunisação passiva das pessoas atacadas de doenças infecciosas. Estas pesquizas deram bons resultados no que diz respeito ao tetano e á dysenteria. A maior parte, porém, das doenças infecciosas, o typho, a cholera, a peste, a pneumonia, a erysipela, etc. mostraram-se refractarias ao tratamento soro-therapeutico. Cabe ao homem de sciencia inglez Wright, o merecimento de haver indicado a senda pela qual se podia chegar á solução do problema. Wright seguiu uma theoria sustentada pelos experimentadores do Instituto Pasteur de Paris e especialmente por Metchnikoff. Segundo esta theoria, chamada dos phagocitas, a immunidade contra as doenças infecciosas é devida, não á acção de certas substancias liquidas contidas no organismo, como se imaginava antigamente, mas sim á acção dos corpusculos brancos do sangue, os assim chamados lencocitas, que atacam, capturam e devoram os bacillos, tornando-os inoffensivos por este meio. D’ahi lhes vem o nome de phagocita (litteralmente cellulas devoradoras) que Metchnikoff deu aos corpusculos brancos do sangue, assim como o de phagocito e para exprimir a funcção dos proprios corpusculos. As pesquizas de Metchnikoff foram continuadas pelo sabio inglez que demonstrou que a phagocitose só opera na presença e com a cooperação do sôro. Retirados do sôro os phagocitas perdem a capacidade de combater e de destruir as bacterias. Isso leva á conclusão de que existem no sôro substancias especiaes que teem uma acção sobre as bacterias no sentido de as tornar destructiveis pelos phagocitas, ou, para empregar o termo technico, que sensibilisam as proprias bacterias para a acção dos phagocitas. Wright deua a esta substancia o nome de opsonina (do latim opsono, preparar para o pasto). A resistencia do organismo aos agentes das doenças infecciosas é devida á acção da apsonina. Wright imaginou um processo muito engenhoso, graças ao qual se pode determinar com uma expressão numerica o grau de resistencia que um dado indididuo apresenta contra uma determinada doença infecciosa. Estabelecendo-se o indice opsonico de uma pessoa nos diversos momentos da sua existencia, podem seguir-se as variações do grau de immunidade que ella possue. Exprimindo graphicamente os resultados obtidos, póde-se construir uma curva de immunidade. Wright e os seus discipulos fizeram uma numerosa serie de estudos sobre as variações do indice opsonico no decorrer das doenças infecciosas e pudéram demonstrar experimentalmente que á elevação d’este indice corresponde effectivamente um augmento na capacidade de resistencia do organismo contra os agentes de infecção. O descobrimento de Wright traça o caminho a seguir no tratamento das doenças infecciosas: para obter a cura é preciso tratar de augmentar o indice opsonico do paciente. Para alcançar este fim o sabio inglez recorre á vaccinação, ha muito tempo em uso para obter a immunidade contra a variola. N’algumas doenças, a vaccina é extrahida das bacterias da doença que se trata de curar; quando é possivel opera-se com bacterias provenientes do proprio paciente. Para privar estas bacterias da sua capacidade pathogenica, Wright expõe-nas durante algum tempo a uma temperatura de 60 graus que as mata. A cultura é em seguida injectada em dóse opportuna sob a pelle do paciente. Depois da injecção observa-se um melhoramento nas condições objectivas do doente e d’ahi a algum tempo encontra-se um augmento gradual no indice opsonico. Por este modo, o exame opsonico do sangue e a vaccino-therapia, combinam a sua acção para conseguir a cura especifica das doenças infecciosas.

Referência bibliográfica

[n.d.] - "Pela medicina - A opsonina" in Diário dos Açores de 14 de Junho de 1909, nº. 5395, p. 1 (col. 1-3). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2994.



Detalhes


Nome do Jornal


Mostrar detalhes do Jornal

Número

Ano Mês Dia Semana


Título(s) do Artigo


Título

Género de Artigo
Opinião

Nome do Autor Tipo de Autor


Página(s) Localização do Artigo na(s) página(s)


Tema

Popularização da Ciência
Educação Cientifica
Palavras Chave


Notícia