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Em julho d’este anno realisou-se em França o primeiro “Congresso internacional do Automovel Agricola e das Applicações do Motor Mechanico á Cultura (Motocultura)” ao mesmo tempo que se realisava em Amiens uma exposição de motores e automoveis agricolas.
Os francezes que inventaram e propulsionaram a industria automobolista não podiam deixar-se ultrapassar pelos estrangeiros nas applicações á agricultura dos principios que estabeleceram.
Assodadamente tratam de aggremiar esforços de sabios, constructores, engenheiros, homens praticos d’officio, lavradores, a fim de evittar que os trabalhos inglezes, americanos, allemães, n’este ramo industrial de mechanica agricola, tomem um consideravel adeantamento sobre os seus proprios.
Effectivamente umas quinze casas especiaes de Inglaterra se dedicam já á construcção de tractores agricolas; na Allemanha a importante companhia “Motorpflugfabrik” tambem a esses machinismos consagra sua actividade, ao mesmo tempo que a conhecida fabrica de motores de gaz em Deutz, perto de Colonia, lança no mercado, na primavera passada, uma charrua automotora typo Brabante.
Na Exposição Universal de Paris de 1900 já appareceu um tractor automovel destinado á lavoura e perfeitamente me recordo de ter examinado debulhadoras accionadas por motores de explosão, fazendo parte do mechanismo, sem constituir um organismo á parte, como nas debulhadoras tocadas pelo vapor, a machinas geradoras.
De então para cá a França pouco tem caminhado n’este ramo do automobilismo e comprehende-se como lhe seja penoso ver industrias rivaes approveitando a sua invenção inicial em melhores condições do que ella. D’ahi seu empenho de as combater vigorosamente em propaganda energica de todos os factores de exito.
Congressos, exposições, publicações especiaes começam de actuar no espirito publico e na emulação dos constructores levantando-se um nova theoria – essa bem franceza – em torno do qual zumbem já os praticos como as abelhas em torno do cortiço onde está o mel que as ha de alimentar.
Até aqui a mechanica agricola quer na America, na Inglaterra, na Allemanha ou na França tem encarado o problema do automovel agricola como residindo tão somente na substituição do motor animal por um motor machina na tracção dos utensilios ruraes.
D’este ponto de vista proveem os tractores e os guinchos com motor proprio, sendo os tractores os que mais se notabilisaram na exposição de Glocester (Inglaterra) em maio do corrente anno, e sendo o guincho, da casa Bajac, de Liancourt em França.
O emprego do tractor para transporte de mercadorias agricolas é facto corrente na Gran-Bretanha e na suas colonias, mas em mais parte alguma se tem generalisado. Deve-se comtudo dizer que para esta utilisação o motor d’explosões é, por emquanto, muito menos empregado que o do vapor.
Em Portugal um lavrador arrojado emprega tambem este processo de tracção na sua lavoura e creio que em transportes. É o sr. Veiga Araujo na herdade do Monchão da Povoa.
O moço e saudoso agronomo Francisco Cabral Paes no seu optimo trabalho O motor de essencia em agricultura consagrou a estes tractores, com os quaes realisou experiencias interessantes, um curioso estudo para o qual chamo a attenção de quem se interesse pelo assumpto.
D’esse livro recorto, a titulo de informação, as contas do custo comparado da lavoura d’um hectare de terreno executada a bois e a tractor de explosões. Calculando para o districto de Evora o preço medio de uma junta de bois, valor do estrume, preço de alimentação, rendimento de venda depois da engorda, ordenado do pessoal trabalhador, etc. chega á conclusão que a lavoura de um hectare custa 5$796 réis levando a realisar-se 25 horas.
Referência bibliográfica
D. Luiz de Castro - "Chronica agricola - Motocultura - O automovel na agricultura – Na França, na Inglaterra, na Allemanha – As duas escolas da cultura automovel – O motor animal substituido pelo motor machina – Tractores e guinchos – O tractor agricola em Portugal – O lavrador Veiga Araujo é o agronomo Cabral Paes – Contas comparadas – A theoria nova – A motocultura – Um conselho de Catão desacatado – A evolução da lavoura – A charrua automotora rotativa – Preços de trabalhos."
in Diário dos Açores
de 3 de Dezembro de 1909, nº. 5539, p. 1 (col. 1-2). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=3164.
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