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Texto da entrada (ID.3184)

Se a elaboração de um tremor de terra desenvolve electricidade – disse comsigo o sr. Atto Maccioni – deve ser possivel captar esta passagem obrigal-a a manifestar-se por meio de um instrumento idoneo. O isolador de Branly (cohéreur) era exactamente o que precisava. Sabe-se o que é um cohéreur, um tubo contendo limalha de ferro, que, intercallado no circuito de uma pilha de baixa tensão, só deixa passar a corrente no caso de se produzirem descargas electricas, porque essas descargas dão logo á limalha uma conductibilidade de que carecia e só subsiste em quanto dura a descarga. O sr, Atto Maccioni (segundo a memoria, que leu ultimamente perante uma sociedade scientifica de Siena) pensou em utilisar não só o cohéreur Branly, que é a base da telegraphia sem fios, mas tambem o cohéreur Tommasina. Mas os primeiros resultados não deram tudo o que delles se esperava. Os cohéreur existentes não eram assás sensiveis. O sr. Maccioni esforçou-se, por isso, por dar-lhes maior sensibilidade e conseguiu-o, quasi logo, diminuindo a quantidade de limalha. Sem perder tempo, organisou um previsor casual, que poz em observação junto de um sismographo. O principio desta sentinella, é, em duas palavras, o seguinte: quando a descarga de origem sismica se produz, sensibilisa o cohéreur e como este está intercallado num circuito electrico, em que se acha collocado um systema de campainhas, desde que a limalha se tornou conductora, a corrente da pilha passa, e as campainhas fazem-se ouvir. O despertador permaneceu algum tempo sem dar signal de vida; mas, no dia 11 de abril proximo passado, fez-se ouvir de repente. Evidentemente, uma onda electromagnetica tinha sensibilisado o cohéreur. Como é natural, foi vêr-se o sismographo, e quatro minutos depois, registava um abalo de terra. No mesmo dia, o pequeno carrilhão fez-se novamente ouvir, e, mais uma vez o sismographo reagia, quatro minutos depois, exactamente. O despertador tinha, por consequencia, avisado que um proximo abalo terrestre se ia produzir. O sr. Atto maccioni pensa que se póde, por intermedio do seu apparelho, ser prevenido com antecedencia de um tremor de terra. Pensa que convem usar o seu despertador e estudal-o a fundo, para tirar d’elle o melhor resultado possivel. Observou-se já um facto que cumpre registar. Para evitar que o machinismo funccione sob a influencia das descargas atmosphericas, é indispensavel ligal-o solidamente á terra. Consegue-se isto fazendo partir de um aperta fios do cohéreur um fio conductor que termina n’uma barra metallica vertical, enterrada completamente no solo. D’est’arte são as descargas que circulam no solo que se interceptam, e não as do ar. A descoberta do sr. Atto Maccioni é, sem duvida, de grande importancia. Mas estamos apenas no principio. Ha muitas questões a profundar antes que se apure em que medida o avisador dos sismos póde ser util na pratica. Só a observação e experiencia podem obter esse resultado. Seria muito importante saber se o intervallo entre a chegada das duas ondas electrica e mechanica varia conforme a distancis entre o posto de observação e o epicentro, fóco do phenomeno. Por que se poderiam, talvez, distinguir os sismos terriveis, d’aquelles que não são perigosos, por terem o seu fóco muito afastado, dado que pudesse saber-se, de ante mão, pelo avisador, se o abalo seria fraco ou forte. O sr. Maccioni encetou já o estudo d’este ultimo ponto. Imaginou um avisador composto de muitos cohéreurs de sensibilidade, differentes e combinados em série. Esse apparelho permitte reconhecer o grau de intensidade do abalo conforme a sensibilidade dos cohéreurs, que funccionam. É, por consequencia, impossivel dizer qual será o valor pratico da descoberta. Só o tempo a fará conhecer. Seja como fôr, um caminho novo se abriu á sismologia. Cumpre embrenhar-se n’elle e exploral-o a fundo. É o que farão sem duvida e immediatamente todos os sismologos.

Referência bibliográfica

[n.d.] - "Previsão dos terremotos" in Diário dos Açores de 24 de Dezembro de 1909, nº. 5556, p. 1 (col. 1-2). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=3184.



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