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Texto da entrada (ID.3185)

Estamos certamente muito longe, moral e scientificamente sobretudo, da epocha em que se considerava o ar atmospherico como “um corpo simples”. Sabe-se de ha muito que se trata de uma mistura gazoza. O estudo de Lavoisier sobre a composição do ar, em 1743, foi decisivo. Forneceu uma base indiscutivel de conhecimentos. Mas, precisamente porque essa base é clara e simples, convém apoiarmo-nos sobre ella, não nos contentando com uma formula “azote-oxigenio”. Esta formula estabelece, na verdade o equilibrio chimico geral do ar atmospherico: deixa comtudo de lado os elementos accessorios de que se deve occupar o hygienista. Estes elementos são: o vapor d’agua, o acido carbonico, o amoniaco, o ozone, isto para citar apenas os principaes. A falta completa de um d’elles é impossivel de se encarar, e só pode ser accidental durante um periodo muito curto. As suas variações, pelo contrario, teem uma importancia consideravel para os seres que respiram a mistura ou conjuncto. Poderá, por processos scientificos, assegurar-se a constancia e a regularidade da mistura? Não, seguramente. Mas pode-se, pelo menos, quando se dispõe d’uma atmosphera mais ou menos confinada, conseguir as boas condições desejaveis por meio da ventilação, da humidificação e da filtragem do ar. É, pois, incontestavelmente muito util persuadirmo-nos de que a composição do ar é muito variavel; que esta composição deve ser regulada, tanto quanto possível, e que é tambem perigoso, em muitas circumstancias, respirar ar defeituoso, como beber agua de má qualidade. Tem esta preoccupação é mostrar-se hygienista na melhos accepção do termo. Os esforços isolados do hygienista produzem pouco effeito; mas quando se agrupam e se concertam dão resultados sempre beneficos e muitas vezes consideraveis. É por isso que cada qual deve estudar por si proprio o ar que respira, tratando de lhe fazer manter a composição mais favoravel. As variações relativas do oxigenio e do azote na composição do ar escapam a toda a discussão scientifica pela sua importancia propria. Não podemos contar senão sobre as manifestações da electricidade e sobre as variações do potencial electrico das camaras d’ar em movimento, para manter a proporção desejavel. As tempestades parece terem por missão, produzindo numerosos cursos circulares atmosphericos, restabelecer o equilibrio, quando elle está momentaneamente rôto. Podemos, pelo contrario, d’uma maneira muito menos local, influir sobre a tensão essencial do ar em vapor d’agua. Os meios d’acção com este fim são as pulverisações d’agua e as regas. Ha um que deve sobrepujar a todos os outros: é a preservação das arvores contra a funesta acção destruidora. As florestas, sob todas as suas formas, são o regulador de quantidade de vapor d’agua atmospherico. Quando desapparecem, vem a secca, as estações perdem asua regularidade e o periodo desertico é inevitavel. Sustentando os arvoredos no que teem essencialmente de utilitario, e praticando simultaneamente a irrigação agricola, podemos manter d’uma maneira mais ou menos regular a tensão de vapor d’agua n’uma região. É certo que esta tensão pode ser perturbada pelos grandes movimentos meteorologicos, os quaes constituem incidentes, mas, ainda assim, o regimen d’equilibrio geral pode assegurar-se por longos periodos. O acido carbonico é, de todos os elementos variaveis da atmosphera, o que n’ella se encontra em maior proporção. Acompanha todas as decomposições, todas as fermentações e todas as respirações. As observações do Observatorio de Moutsouris, em Paris, demonstram que a quantidade de acido carbonico contido no ar atmospherico varia de anno para anno, de mez para mez e até de um dia para outro. Não se póde influenciar scientificamente sobre estas grandes variações que dependem dos phenomenos physicos e chimicos universaes. Mas pode-se em certa medida, quando se trata de atmospheras confinadas, regular o aquecimento e a renovação do ar pela ventilação. Tudo quanto se faça, para manter a proporção normal do acido carbonico no ar, é sempre proveitoso á hygiene. O terrivel oxido do carbone, verdadeiro veneno gazozo, não existe, felizmente, de uma maneira normal no ar atmospherico. É o producto e o companheiro das combustões incompletas ou mal organisadas. Vigiando, portanto, essas combustões, ou regulando-as como convém, eliminar-se-ha da composição do ar este perigoso componente. O amoniaco encontra-se na atmosphera, não no estado livre, mas em combinação com o acido nitrico e o acido nitroso. Provém da decomposição das materias organicas azotadas, e é atacando-o n’esta origem que se poderá regular a tensão amoniacal do ar. Convem notar, além d’isto, que o amoniaco não é prejudicial á respiração em proporções minimas, e é assim, em grande diluição, que se encontra na atmosphera. A sua presença tem até a utilidade hygienica de revelar, n’um local, a séde d’uma fermentação de materias organicas, permittindo fazel-a desapparecer. O ozone, muito tempo ignorado, é um dos elementos gazozos essenciaes da atmosphera, na qual é produzido pelas descargas electricas. Copiando, por assim dizer, a acção do raio, é que se chegou a produzir industrialmente o ozone, gaz d’um cheiro vivo e penetrante, evidentemente benefico no ponto de vista physiologico n’um ar que se quer respirar de uma maneira activa. Compara-se voluntariamente ao oxigenio condensado por um abalo electrico intenso. Por outro lado, muitas materias organicas soffrendo oxidações lentas, produzem ozone em pequena quantidade. D’uma maneira geral, fóra dos casos de trovoada, o ozone parece ser transportado pelas tempestades e pelas borrascas. O ozone é um grande destruidor de materias organicas: queima-as por uma oxidação intensa e muito rapida, contribuindo assim evidentemente para a hygiene. Outros elementos gazozos, o argon, o formene, o grisou, o acido sulfuroso, o acido azotoso, podem encontrar-se no ar atmospherico; até muitas vezes o lodo em pequena quantidade. Mas são elementos adventicios, que proveem, assim como os cheiros e os miasmas, da natureza do solo n’um ou n’outro logar. A proporção d’estes elementos pode ser regulada por medidas de hygiene; e se, como o diz a velha expressão, “o fundo do ar é bom” haverá a possibilidade scientifica de assegurar a salubridade da respiração.

Referência bibliográfica

[n.d.] - "O ar atmospherico" in Diário dos Açores de 27 de Dezembro de 1909, nº. 5557, p. 1 (col. 1-3). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=3185.



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