Questões postas pelo leitor e que testemunham a preocupação de prevenção contra epidemias vindas do exterior (contexto – o surto de peste no Porto):
«A desinfecção de mercadorias provenientes de paizes suspeitos de epidemia é operação corrente e de rigor em todos, ou pelo menos na maioria dos portos a que se destinam?»
«Onde e como é feita tal operação?»
“(...) A nós, que não possuimos as minuciosas noções da especialidade – basta-nos para tanto conhecer o numero e a qualidade dos desinfectantes que a sciencia tem descoberto, em que hoje mais confia e que proclama como poderosas armas de desinfecção actual.
Pelo exame d’estas differentes especies averigua-se que nenhum póde ser applicado n’um caso geral, e isoladamente.
Em primeiro logar figura a agua fervente, que pelo grau de temperatura a que póde ser elevada, é um dos mais activos antisepticos. Mas nem a agua fervente póde ser empregada sobre todos os tecidos ou outros objectos, nem, ainda fóra d’esta circumstancia, é um meio pratico de applicação universal.
O mesmo acontece com a glycerina fervente, com o uso do maçarico, que permitte empregar-se o fogo, o fogo que tudo purifica, mas ainda n’estas ultimas hypotheses mais restricto é o terreno da desinfecção.
Não servem melhor os agentes chimicos empregados sob a forma gazosa, e que ja por seu lado estão já desabonados, se exceptuarmos o gaz sulfuroso e o formol, considerado o sol nascente da hodierna desinfecção.
Mas nem o gaz de enxofre é inteiramente inoffensivo, por isso que altéra a côr e causa outros effeitos em determinados artigos, nem os vapores do formol, apesar d’este antiseptico se achar destinado a um largo futuro, pódem exercer a sua acção esterilisante em todos os centros em que a desinfecção tenha de penetrar.
Com os restantes ocorre a mesma ordem de considerações. Não sendo, portanto possivel manipular convenientemente a fazenda transportada a bordo para a sujeitar a uma antisepsia de natureza especial, nem sendo a construcção dos navios feita de um modo adequavel ás exigencias da moderna technica da desinfecção, parece-nos responder satisfatoriamente ao illustre epistolante dizendo que os casos graves criam a necessidade de um logar exclusivo para as operações d’este genero, levando-as até aonde a sciencia põe a sua maior confiança, pela propriedade e rigor da sua pratica.
N’este campo estão pois indicados naturalmente os lazaretos e os postos de desinfecção para tal serviço.
Não podendo, porém, um porto ou uma povoação possuir estes dois edificios, nos casos da nossa terra, julgamos de bom conselho que a construcção para taes trabalhos sanitarios deva procurar, quanto possivel, corresponder ás necessidades que esses edificios representam.”