Texto da entrada (ID.3254)
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Não sabemos se sua magestade o imperador da Allemanha consultou algum dos seus aulicos, ou se conversou unicamente com os seus botões, o que se sabe é que elle, de encontro à opinião dos sabios e de diversas corporações scientificas, determinou que o seculo vinte começasse a contar-se d’este anno que vae decorrendo. E no primeiro de janeiro, na sala estrellada do seu palacio, perante a sua corte, celebrou solemnemente este acontecimento, bebendo á saude do novo seculo, que assim recebeu o seu baptismo, n’um copo de vinho do Rheno, junto das margens de Sprée.
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É triste, porém, que se queira iniciar uma nova era com o doloroso espectaculo que estamos presenceando na Africa do Sul, e que nos transporta aos tempos do mais rude barbarismo.
O século XX devia inaugurar-se d’um modo mais puro e humanitario, mais consolador e poetico. A exposição universal de Paris, n’uma atmosphera mais calma e menos odienta podia ser a chave de ouro que fechasse o seculo XIX e o arco triumphal que abrisse o caminho do seculo XX. O seculo da electricidade e dos raios Roentgen, concentrando todas as maravilhas da sciencia e da industria, chamaria todos os povos á festa do trabalho e lhes diria – admirae aquilo de que sois capazes e creae forças para produzir novas e mais deslumbrantes manifestações da nossa inquebrantavel actividade.
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Será porventura o seculo XX o seculo da Allemanha e o seculo do imperador Guilherme?
Sua magestade imperial é o chefe do mais poderoso e mais bem organisado exercito do mundo, é o chefe d’uma nação de primeira ordem, que aspira, por herança ou por conquista, á supremacia dos mares que hoje exerce a Inglaterra. N’estas circunstancias, na perspectiva de tão brilhante futuro, na ambição de cumprir um glorioso destino, não admiraria que o imperador da Allemanha quizesse deixar marcado o seculo com a sua garra de leão. (...)
Sua magestade imperial poderia ser o arbitro do mundo, lançando equitativamente o peso da sua espada na balança das pendencias internacionaes.
Torne-se o rei da Prussia o protector do opprimido contra o oppressor, faça segunda edição do telegramma que dirigiu outrora a Kruger e verá como o cobrirão os applausos do seu povo e os applausos do mundo inteiro.
E assim, n’este proposito humanitario e n’este ideal de justiça, o seculo XX poderá ser, com todo o rigor historico e sem a lisonja palaciana, o seculo de Guilherme II.”
Referência bibliográfica
[n.d.] - "Fim de Seculo – Seculo Novo"
in Diário dos Açores
de 23 de Janeiro de 1900, nº. 2645. Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=3254.
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