Madame Curie, nome hoje tão conhecido em todos os meios scientificos pelos seus trabalhos sobre radio-actividade e pela parte activa que tomou na descoberta do radio, juntamente com seu esposo e companheiro de trabalho, Monssieur Curie, a quem a morte tão inopportuna e desastradamente roubou à sciencia, tem, apesar do lance fatal que a acabrunhou, continuado nas modernas explorações scientificas a que a physica actual dá um vasto e fertil campo, e da qual Madame Curie é fervorosa sacerdotisa. (...)

Publicou a Revue Scientifique n’um dos seus ultimos numeros, a lição de abertura feita por Madame Curie o curso de physica geral, em Sorbonne, lição interessantissima principalmente, quanto a nós, pelo espirito philosophico que presidiu ao seu desenvolvimento.

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Physica – As modernas theorias relativas à electricidade e à materia por Madame Curie

Quando se examinam os processos efectuados recentemente no dominio da physica, durante um periodo que não ultrapassa quinze annos, fer-nos sobretudo o espirito, a evolução que sofreram as noçoes elementares relativas á natureza da electridade e da materia. É filha desta evolução por um lado, do estudo profundoda conductibilidade electrica dos gazes, e por outro, da descoberta e estudo dos phenomenos da radio-actividade. Esta evolução, está, assim o creio, longe de terminar.

Um ponto, que parece ter-se alcançado definitivamente, é a concepção d’uma estrutura atomica da electricidade; esta concepção vem confirmar e conpletar a idéa que se faz da estructura atomica da materia, idéa que constitue a base das theorias chimicas.

Ao mesmo tempo que a existencia d’atomos d’electricidade, indivisiveis por meios actuaes, parece estar estabelecida com segurança, algumas propriedades importantes d’esses atomos acham-se reveladas. Os atomos de electricidade negativa, a que chamamos electrons, podem existir no estado livre, independentemente de todo o atomo material, não havendo propriedades algumas entre elles. N’este estado, possuem certas dimensões no espaço e são dotados d’uma dada inercia, o que sugeriu a idea de lhes attribuir uma massa correspondente. A experiencia mostra que as suas dimensões devem ser consideradas como pequenas, em relação ás das moleculas materiaes, e que a sua massa não pode ser superior a uma pequena fracção: 1/1000, quando muito, da massa d’um atomo de hydrogenio. Mostra ainda a experiencia que, se os electrons podem existir isolados, devem, por consequencia existir egualmente no seio da materia ordinaria e podem, em certos casos, ser emittidos por um corpo, um metal por exemplo, sem que as propriedades d’este mudem d’uma maneira apreciavel para nós. Se temos pois a considerar os electrons como uma forma da materia, somos forçados a levar a divisão d’esta além do atomo, e a admittir a existencia de particulas extremamente pequenas que podem entrar na composição do atomo, mas que não trazem a destruição do mesmo, em caso de separação. Este modo de vêr conduz-nos a considerar cada atomo como um edificio complicado, e esta supposição torna-se provavel pela complexidade de espectos de emissão que caracterisam os differentes atomos.

Continua

Iman

Trad. para o Diario dos Açores