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Texto da entrada (ID.336)

As modernas theorias relativas à electricidade e à matéria

por

Madame Curie

(da Revue scientifique)

(continuação

Maxwell foi o physico que, suduzido pelas ideias de Faraday, quiz interpretá-las em linguagem mathematica. Demonstra que não existe, ao ponto de vista mathematico, nenhuma incompatibilidade entre as theorias baseadas as leis da acção a distancia e a theoria dos meios de Faraday e que, dando um valor conveniente ás tensões e pressão que este suppõem no dialectrico, pode-se construir uma electroestatica identica á que deriva da lei das acções a distancia.

Ainda que Maxwell não precisa qual seja a natureza da electricidade, trata-a geralmente como um fluido, cujo deslocamento n’um conductor dá logar a uma resistencia proporcional á velocidade do escoamento, ao passo que o seu deslocamento n’um dralectrico, produz uma reacção elastica. N’um dialectrico o deslocamento não pode pois produzir-se senão no momento em que o campo varia. Uma das idéas essenciaes de Maxwell, foi considerar o deslocamento da electricidade no dialectrico, como uma corrente electrica ao qual dá o nome de corrente de deslocação. A corrente de deslocação comporta-se, segundo Maxwell, como uma corrente ordinaria, e toda a corrente de conducção não fechado n’um conductor, fecha-se por uma corrente de deslocação no dialectrico de tal modo que não existem senão correntes fechadas.

O systema das 6 equações differenciaes, chamadas equações de Maxwell, traduz em forma mathematica, a relação que existe em cada ponto d’um campo electromagnetico, entre a corrente de deslocação e o campo magnetico, assim como entre a variação da inducção magnetica com o tempo e o campo electrico que d’ahi resulta. Estas relações perfeitamente symetricas, mostram que qualquer varaição do campo electrico occasiona a producção d’um campo magnetico, e reciprocamente.

Partindo d’estas equações Maxwell, que toda a perturbação d’um campo electromagnetico, deve propagar-se no vacuo com uma velocidade que se acha egual á da luz no mesmo vacuo. D’aqui conclue Maxwel que o meio que transmitte as acções electromagneticas no vacuo, é o mesmo que transmitte a luz, e que esta é, verosimilmente, um phenomeno electromagnetico. Esta concepção serviu de base à theoria electro-magnetica da luz, hoje universalmente adoptada em seguida ás experiencias de Hertz e de numeros physicos sobre as ondas electro magneticas.

No desenvolvimento das idéas de Faraday e de Maxwel, é preponderante a importancia attribuida ao papel do meio dialectrico, de maneira que se pouco mais se cuidou, durante algum tempo, da natureza da electricidade a qual parecia posta n’um papel secundario e destinada a receber uma interpretação indirecta. Não mais se viam nem cargas electricas localisadas n’uma região determinada, nem fluido escoando-se n’um meio conductor. Só se via a energia localisada no dialectrico, e as equações differenciaes que presidem ás variações do campo n’este meio. O desenvolvimento das pesquizas recentes fez-nos chegar a uma concepção mais concreta da natureza da electricidade.

Os primeiros impulsos dados n’este sentido foram os trabalhos sobre electrolyse e as theorias modernas d’este phenomeno. Ficou estabelecido, sobre seguras bases, que o transporte d’electricidade nos electrolytos, é sempre acompanhado a um transporte de materia. Os electrolytos são soluções aquosas, bases e saes marinhos, ou estes mesmos corpos fundidos. Admitte-se hoje que as moleculas do corpo dissolvido são, total ou parcialmente, dissociadas em dois ions: um formado pelo metal ou hydrogeneo e carregado positivamente, outro formado pelo radical acido e carregado negativamente. Quando se estabelece na solução um campo electrico, os ions dirigem-se para os electrodes de nome contrario, transportando atravez do liquido as suas cargas que cedem aos electrodes, sendo então postos em liberdade no estado neutro. Os ions são, pois, os verdadeiros vehiculos da electricidade nos electrolytos.

Resulta mais, das leis de Faraday, que cada ion monovalente tem a mesma carga q correspondente 96.600 colombs por ion gramma, ao passo que os ions n – valentes teem uma carga nq. Não se pode, pois, conceber em electrolyse uma carga electrica isolada, inferior á que traz um ion monovalente, por exemplo, à que traz o atomo d’hydrogenio no estado de ion. A estructura atonica da electricidade deduz-se então immediata e necessariamente, da estructura atomica da materia.

De forma alguma é evidente, à priori, que esta concepção possa ser generalisada, e que os outros casos conhecidos de conductabilidade, sejam susceptiveos d’uma interpretação analoga. Comtudo é que parece produzir-se.

Continua

Iman

(Trad para o Diario dos Açores


Referência bibliográfica

Madame Curie, Iman (trad.) - "Revista Scientifica - As modernas theorias relativas à electricidade e à matéria" in Diário dos Açores de 30 de Setembro de 1907, nº. 4899, p. 1 (col. 1-2). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=336.



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