Foi em 26 de fevereiro de 1923 que eu tornei publica esta minha conclusão, por intermédio dum jornal da manhã; seis meses depois houve alguem em espanha que declarou em uma conferencia publica que “O Sol era frio e escuro” asserção diferente da minha mas que poderia ter sido derivada. Mais recentemente e devido ás investigações do meu amigo Jacinto Guilherme Furtado, fiquei sciente de que já entre os hindus se dizia que “o calor do Sol era azul”.
É fácil argumentar em favor desta conclusão com os conhecimentos da sciencia actual e bem mais facil do que provar a esfericidade da Terra.
Vamos primeiramente ás provas relativas á ausencia de calor na irradiação solar.
Tem-se reconhecido grades analogias na constituição fisica dos diversos planetas do sistema solar, o que é naturalissimo, visto se terem já posto de parte as ideias de que todo o Universo foi criado para deleite do homem. Se o Sol fosse fonte irradiante de calor, cada um dos planetas receberia, por unidade de superficie quantidades de calor muito diferentes, incompativeis com a semelhança da constituição fisica.
Se o calor nos viesse do sol, como se explicaria a variabilidade de temperaturas que se dá na mesma quadra do ano e em condições absolutamente identicas de vento e atmosfera?
Todos sabem que acima de uma certa altitude se encontra gelo exposto á violencia da irradiação solar; porque se não funde esse gelo?
Sendo a agua do mar permeavel ao calor, porque se encontra um minimo de temperatura a uma profundidade relativamente pequena abaixo da superficie dos mares e oceanos?
Sendo a Terra constituida por substancias mais ou menos condutoras de calor e incidindo a irradiação solar sobre elas há milhões de anos, porque se não tem elevado a temperatura média da terra até ao ponto de fusão e volatilização de muitas delas? O facto de se admitir a irradiação nocturna do calor recebido em cada região, durante o dia, não é suficiente argumento para explicar porque se não eleva sucessivamente a temperatura da Terra
Imagine-se uma esfera de qualquer substancia, aquecida por um foco ardente e dotada de movimento de rotação, a esfera deve com o decorrer dos tempos ir-se aproximando de uma temperatura igual à distancia considerada. Ora, isto não se dá com a Terra.
E porque se dá o resfriamento ao nascer do sol?
Muitos outros argumentos se poderiam aduzir, todos concordes em reconhecer a falsidade da noção de calor solar; a temperatura experimentada nas ascenções aerostaticas, a constituição das nuvens situadas nas altas camadas atmosféricas, etc, etc.
Parece-me pois que era tempo de corrigir nos livros destinados á instrução das crianças a falssissima ideia do calor solar e ensinar-lhes que o calor existe nos planetas e no proprio sol, mas que a irradiação deste só nos traz a luz azul e não o calor.
É nas baixas camadas da atmosfera e nas superficiais do solo que se encontra o calor.
Justiniano Esteves