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(2 a 29 Agosto)
Costuma ser agosto um mês sem interesse metereológico para a Península pela constancia do tempo. Que estamos de facto num ano excepcional mostrou-o este mês, cujo caracter dominante foi a visibilidade alternando em dias de belo sol com os de céu coberto e succedendo-se a curtos períodos de calor outros de vento áspero e noites frescas. Tem sido este , a bem, dizer um ano quasi sem verão e a darmos crédito ao metereologista americano Browne serão piores os de 1926 e 1927, em que o verão não chegará mesmo a aparecer.
Filia este sábio as suas notaveis previsões no facto de ter sido muito inferior á media o calor emitido pelo sol desde 1922. Desenganem-se porém os assustados pois tal facto não representa velhice do Pai Sol, mas tão sómente um leve achaque passageiro. E, embora a Sciencia não possa ainda explicar a origem de uma tão colossal quantidade de calor produzida no seio do astro rei, ela confia que as mesmas causas que lhe têm permitido manter a vida na Terra através de milhares de seculos em condições pouco variadas persistiam durante outro tanto tempo para bem ou para mal dos habitantes presentes e futuros do nosso Planeta e dos outros possivelmente habitados.
Estreou-se o mês de agosto com uma depressão de precedencia marroquina que nos deu na tarde de 5 vento SW fresco com chuva em alguns pontos atingindo no Algarve o vento a força 7, usual nos temporais de inverno, mas melhorando o tempo rapidamente na noite de 3 para 4
Por outro lado, no dia 3 de manhã acordou a Irlanda uma depressão vinda do Atlantico a qual dominou na Europa ocidental até ao dia 13, dando tempo sujo e por vezes temporais nas Ilhas Britanicas e no continente, mas não atingindo a Peninsula graças á protecção de anticiclone dos Açores, que no entanto cedeu um pouco a uma outra depressão de procedencia marroquina que alterou o tempo no dia 9. Não obstante, a existencia de baixas pressões ao norte, algumas vezes se sentiram nortadas no nosso litoral.
De 13 a 17 dominou o regime anticlclonico ou de altas pressões no Ocidente da Europa, com bom tempo geral, mas sujo em alguns postos, tendo-se sentido na nossa costa fortes nevoeiros. De 17 a 20 tempo instavel, com chuvas em algumas regiões.
Em 20 abordou a Irlanda uma forte depressão que no dia seguinte ameaçou a Peninsula, dando-nos tempo sujo, mas foi repelida pelo anticiclone dos Açores, instalando-se sobre as Ilhas Britanicas e sobre a França de onde contudo nos incomodou um pouco com a passagem de algumas massas de nuvens. O afastamento desta depressão para nordeste no dia 24 permitiu que o anticiclone se estendesse até ao continente dominando a peninsula e o Golfo da Biscaia.
Parece ter finalmente terminado a série das depressões dirigidas á irlanda pois que seguinte áquelas a que nos referimos trouxe uma trajectoria muito mais setentrional aparecendo na Irlanda no dia 25. Este facto dá-nos a esperança de termos algumas sementes de verão.
Não fecharemos esta cronica sem exprimirmos o nosso profundo pesar pelo falecimento do vice-almirante Augusto Neuparth, criador do serviço Metereológico da Marinha que pelas suas qualidades soube conquistar a estima profunda de quantos com ele serviram.(... )
Carvalho Brandão capitão de fragata
Referência bibliográfica
Carvalho Brandão - "Crónica metereológica"
in Diário de Notícias
de 3 de Setembro de 1925, nº. 21417, p. 2 (c.2). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=3375.
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