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Um tratamento interessante de certas doenças mentais
A menina Yvone de 18 anos de idade, entrou no asilo de alienados de Calons –sur-Marine, com sinais de demencia que os medicos baptizaram com o nome barbaro de herbefreno-catatonica. A menina mostrava-se agitada, não dizia coisa com coisa, ria sem motivo, recusava a comida enão dormia. Dizia-se nos meus tempos de de rapaz que um professor da escola Médica que foi meu de patologia interna , classificava os alienados segundo esta fácil classificação: a menina Yvone estava maluca.
Trataram-na os médicos do asilo conforme os preceitos da arte; fizeram-lhe abcessos de fixação; deram-lhe injecções intra-venosas de elctrargol; experimentaram medicações opoterápicas. Infelizmente a doente continuava agitada e, porque não comia e com essa agitação dispendia forças, além do mal do espirito debilitou-lhe o corpo que chegou a estado de extrema magreza.
Foi então que se lembraram de outro tratamento. Havia no asilo um alienado atacado de moléstia a que chamam demencia precoce, o qual tinha melhorado da tonteira por lhe terem feito alguns abcessos de fixação. Tiraram 30 centimetros cubicos do sangue deste doente em convalescença, injectaram-no nos musculos da menina Yvone e repetiram este tratamento quatro vezes. Houve um periodo em que a agitação recruscedeu mas um mês depois o estado físico da doente melhorava , passado outro mês notavam-se importantes melhoras no estado mental e com mais dois meses a doente saia curada do asilo onde a tinham internado.
Antes de ter alta prestou, porém a outros, com o seu sangue, o favor que lhe tinham pretado. Havia no asilo uma outra doente também agitada com impulsões freque3ntes e em tal estado mental que era necessário o uso da sonda para lhe introduzirem alimentos no estomago. Com as injecções de sangue, a doente melhorou do estado mental, começou a alimentar-se por vontade prórpia e a viver mais calmamente, conquanto não possa considerar-se curada. Claro é que , em muito doentes, o tratamento mostrou-se inteiramente ineficaz: mas basta um caso feliz para despertar interesse tão estranho nos parece, pela influencia de velhas filosofias que uma doença mental se cure com modificações do estado do sangue.
Por que meio?
Sendo a vida do espirito dependente das celulas cerebrais e recebendo estas a sua alimentação pelo sangue, como todas as outras celulas do roganismo, compreende-se que que o seu funcionamento dependa da constituição fisico-quimica do sangue. Mas em que poderá ser esta alterada com a injecção intra-musular de algumas pequenas quantidades de sangue alhieo?
Esta assente que a introdução na corrente sanguinea de albuminas diversas as que lá existem provoca fenomenos a cujo conjunto se dá o nome de “chorrue2 que se utilizam na terapeutica de varias molestias. Ha ainda o uso de soros especificos se soro ou de sangue de convalescentes empregados em geral, no tratamento de doenças microbianas. O que ha de notavel nos casos indicados é a eficacia da medicação para casos de demencia.
Claro é que o tratamento exige que não haja incompatibilidade se assim posso exprimir-me entre o sangue que se injecta e o sangue da doente, devendo o médico proceder a ensaio prévio antes de instituir o tratamento. Dessa incompatibilidade, manifestada por fenomenos de aglutinação, falaremos em outro dia que já vai longo o artigo.
F. Mira
[seguem-se respostas a dúvidas de leitores]
Referência bibliográfica
F. Mira - "Crónicas médicas"
in Diário de Notícias
de 9 de Setembro de 1925, nº. 21423, p. 3 (c.2). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=3389.
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