O estudo da conductibilidade electrica dos gazes, ajuntou ás theorias da electrolyse a idea dos ions carregados, vehiculos da corrente. Mas os vehiculos da corrente não são aqui os mesmos que nos electrolytos. Admitte-se que uma molecula de gaz ionisada dá logar a dois ions, dos quaes em é esse elemento muito pequeno a que chamamos electron, sendo o outro o resto da molecula privada d’um electron. Pôde-se, por meio de methodos muito engenhosos, contar os ions presentes n’um volume dado de gaz ionisado, e determinar a carga individual que cada um d’elles tinha. Esta carga é egual á que transporta um atomo de hydrogenio na electrolyse, e apresenta-se-nos, pela segunda carga d’electricidade que póde estar isolada.

Todos os phenomenos de conducção atravez os gazes, sob a influencia de diversas radiações ou sob a forma de descarga diruptiva, parecem poder ser explicados por este da ionisação dos gazes.

Procurou-se uma explicação analoga na conducção metalica. É provavel que esta possa ser considerada egualmente como uma corrente de convenção, sendo os vehiculos os electrons livres contidos no metal.

Chegamos pois à conclusão de que toda a corrente electrica na materia é um deslocamento de cargas electricas. Alem d’isso já foi provado que tal deslocamento dá logar á producção d’um campo magnetico.

A noção da existencia d’atomos de electricidade que assim foi posta em evidencia pelos phenomenos de conducção, gosa um papel essencial nas theorias modernas da electricidade, como por exemplo na de Lorentz. Esta theoria conserva a idéa fundamental de Faraday e de Maxwell, idéa segundo a qual as acções electromagneticas se transmittem sempre, tendo por meio, o ether do vacuo, e por velocidade a da luz. As leis de variação do campo electromagnetico no ether, são postas em relevo a cada passo pelas equações de Maxwell. Quanto á causa que dá lugar á producção d’um campo electromagnetico, procuramol-a na existencia, bem real, d’atomos de electricidade positiva e negativa e no movimento d’esses atomos. Tornamos assim, a uma concepção que se assemelha muito à imagem primitiva de dois fluidos electricos. A differença está sómente em que nós observamos a estructura atomica d’esses fluidos com grande nitidez e que, além d’isso, conhecemos melhor a relação entre os atomos d’electricidade e a materia, relação cuja natureza é o mais importante problema que se propõe actualmente.

Um atomo de electricidade em movimento, cria em torno de si um campo electromagnetico que o acompanha e que representa uma certa quantidade de energia, tanto maior quanto o é tambem a velocidade do projectil. Não se pode augmentar essa velocidade sem dispender energia, resultando d’ahi que o projectil carregado é dotado d’uma certa inercia. Diremos pois que o nosso atomo d’electricidade possue uma massa pela razão de que está carregado. Todavia o calculo mostra que essa massa depende da velocidade. Aquella fica constante, emquanto é relativamente fraca a velocidade do projectil (pouco mais ou menos 1/1000 da luz), mas para velocidades crescentes, augmenta a massa, augmenta rapidamente, e tende para um valor infinito, quando a velocidade se approxima da luz.

Podemos imaginar que grupo d’atomos d’electricidade de positivos e negativos, cuja carga total é nula, possue, não obstante, uma inercia resultante das cargas electricas constituintes. Este grupo serve de modelo para um atomo material. Póde-se assim ensaiar o fundamento d’uma mechanica mais geral do que aquella de que nos servimos e que está baseada sobre a constancia da massa; esta não seria mais do que a primeira approximação da realidade e ficaria applicavel a todos os casos de movimento em que a velocidade não é extremamente grande. Têm-se feito tentativas para a conquista da gravitação universal entre os atomos constituidos segundo a imagem precedente. O conjuncto d’estes esforços tende a realisar uma fusão intima da noção da materia com a noção da electricidade, de tal maneira, que estas duas noções distinctas chegarão, talvez, a ser identificadas.

Assim, a constituição que se attribue aos atomos, permitte fundar uma theoria muito satisfatoria para a emissão de calor e de luz pelos corpos. Esta emissão consistiria em ondas electromagneticas de periodo curto, ondas emittidas pelos atomos cujos ions constituintes estão no estado de vibração.

Esta mesma estructura dos atomos, é bastante conveniente para o caso dos atomos radioactivos. Effectivamente, estes, dão logar a uma emissão de crepusculos que são ou electrons, ou particulas carregadas positivamente, cuja grandeza é comparável á do atomo.

D’esta vez não nos occuparemos de outras mais no dominio das theorias que acabo de esboçar; examinaremos antes alguns dos phenomenos que serviram de base ao seu desenvolvimento.

(Continua)

Iman

(Trad para o Diário dos Açores