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Formulario de helioterapia

Quando se trata de qualquer droga de bouca, o doente não dispensa conselho sobre a maneira de a tomar, as doses, o regime a seguir, e muito justamente se apresenta ao médico para que este verifique os efeitos do medicamento, mande continuar ou cessar  a sua administração, ou eventualmente modifique as doses primeiramente determinadas. Não costuma fazer o mesmo quando se trata de outros processos de tratamento. Aconselha-se, por exemplo, a pratica de exercicios fisicos: o doente, em egeral, não inquire de quais exercicios possam convir ao estado dos seus orgãos, á sua idade, sexo e habitos profissionais. Do mesmo modo, quando a receita compreende banhos de sol, o doente não exige que lhe sejam minuciosamente designados o modo de tomar esses banhos, a duração gradualmente crescente para habituar as varias partes do corpo á acção directa dos raios solares, enfim, todo o regime a adoptar num tratamento que pode tornar-se perigosamente nocivo em certos estados de doença, quando não seja convenientemente dirigido.

É hoje reconhecida por todos  a eficacia dos banhos de sol locais ou gerais. O Sol é tão estimulante da vida das cellas, intensificando as trocas que elas realizam com o meio em que vivem e excitando por isso o desenvolvimento do organismo. Dá resultados indiscutiveis no tratamento do raquitismo, das tuberculoses locais, etc. é o nosso pais , onde é intensa a luminosidade atmosférica e o sol brilha em todas as estações; é bem proprio para a realização desse tratamento. Se aflôr humana, como disse Michelet, é de todas as flores a que mais carece de sol, é licito afirmar que ela encontra em Portugal optimas condições de vida.

Para tomar banho de sol ha que ter a precaução de fugir do vento e das tempestades excessivas. Não se expõe um doente ao sol tórrido de agosto: e biombos ou outros abrigos devem proteger do vento, quer se tome o banho numa varanda; num terraço, no campo plano, na praia ou na montanha. Uma casa pode mesmo ser local proprio para o banho, desde que o sol entre nela sem ser coado por vidraça e incida sobre a pele nua.

É preferivel tomar o banho da manhã fazendo progressiva adaptação segumentos (sic) aos seus efeitos. Para isso começa-se em geral, por sessões de curta duração, separadas por intervalos de 24 minutos, mais ou menos conforme o seguinte quadro elaborado por um especialista no assunto:

1º dia : 3 sessões de cinco minutos de duração cada uma incidindo o sol apenas nos pés e nas mãos

2º dia : 3 sesões de dez minutos nos pés e nas mãos; de cinco minutos no antebraço e  na região do membro inferior até meia perna.

3º dia : 3 sessões de quinze minutos nos pés e nas mãos; de dez minutos no antebraço e metade inferior da perna; de cinco minutos nos joelhos e cotovelos

4º dia : 3 sessões de vinte minutos nos pés e nas mãos; de quinze minutos no antebraço e metade inferior da perna; de dez minutos nos joelhos e cotovelos, de cinco minutos nos braços e metade inferior das coxas.

5º dia : 1 sessão de uma hora nos pés e nas mãos; 3 sessões de vinte minutos no antebraço e metade inferior das pernas; de quinze minutos nos joelhos e cotovelos; dez minutos nos braços e metade inferior das coxas; cinco minutos na raiz das coxas e nos ombros.

6º dia : 1 sessão de uma hora nas mãos e pés, antebraços, pés e pernas; 3 sessões de vinte minutos nos joelhos e cotovelos; de quinze minutos nos braços e coxas; de dez minutos nos ombros; de cinco minutos no abdómen.

7º dia . 1 sessão de uma hora nos membros superiores e inferiores; 3 sessões de quinze minutos nos ombros; de dez minutos no abdómen; de cinco minutos nas costas.

8º dia : 1 sessão de uma hora nos membros e abdómen; 3 sessões de dez minutos nas costas; de cinco minutos na face anterior do torax.

Assim se vai habituando o corpo das partes mais para as menos sensíveis, de forma que a partir do 10º dia não havendo qualquer modificação todo o corpo pode ser exposto ao sol durante uma hora.

Aqui está uma indicação cuja unica utilidade é mostrar que são necessarios cuidados especiais para efectuar o tratamento por banhos de sol pelo menos tão importantes como os que se exigem para a administração de medicamentos fornecidos em farmácia sob receita médica. Mas não fará bem quem se guie apenas pelo que fica aqui descrito ou por indicações semelhantes dispensando o conselho médico. Porque só este conforme o estado do doente, poderá formular com exactidão e alterar ou suspender o tratamento em caso de necessidade . Qualquer falta de prudencia pode trazer, por exemplo, em tuberculosos, reacções febris, estados congestivos, hemoptoses, reactivação de lesões latentes ou extensão de focos limitados.

Quere dizer: o leitor fica sciente de que este artigo é escrito com o fim de lhe demonstrar que não deve tomar banhos de sol sem que um médico lhos receite, indique o medo de realizar o tratamento e siga cuidadosamente os efeitos deste.

F. Mira


Referência bibliográfica

F. Mira - "Crónicas médicas" in Diário de Notícias de 23 de Setembro de 1925, nº. 21437, p. 3 (c.2). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=3407.



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