Inventa-se um aparelho para explorar as cidades antigas ha seculos submersas
Napoles, setembro – encontra-se nesta cidade a expedição submarina Hartman que se propõe realizar durante o outono importantes explorações ao longo da costa italiana, seguindo depois para o largo defronte de Tunis As suas investigações marcarão o inicio de uma era nova na exploração das profundidades submarinas.
O dr. Hans – Hartman, de Nova York, que é a alma da exposição, elaborou um programa talvez demasiado ambicioso, mas sem por isso menos interessante, piis espera abrir um caminho definitivo á solução de grande numero de misterios submarinos sobre os quais não se saiu ainda de meros palpites. O seu primeiro objectivo é o estudo de civilizações antigas, cujos restos existem a milhares de metros abaixo da superficie mediterranea.
Depois de vinte anos de pesquisas, o dr. Hartman efectivou a construção de um aparelho de mergulhadores destinado á exploração dessas profundidades Em forma de cilindro, esse aparelho pode descer até 5.000 metros. Consiste num cilindro de aço com uma provisão de oxigenio distribuido por três recipientes e suficiente para trinta e seis horas. É bastante resistente para suportar as pressões das maiores profundidades submarinas. Desce-se ao nível a que se deseja por meio de um cabo de aço, conduzindo dois observadores que poderão estudar o que se (?) com o auxilio de telescopios prismaticos. A luz necessaria para esse efeito é fornecida por poderosos projectores, tendo ainda na parte externa, objectivas fotográficas e outros aparelhos destinados á propulsão do cilindro e de observações scientificas.
O que diz o dr. Hartman
O inventor americano, membro da Royal Society of Arts, começou as suas invenções no dominio da mecanica das minas e da electroterapia. Mas foi no seu laboratório de Nova York que ele se lançou nos estudos oceanograficos paralelamente com os trabalhos do principe do Monaco, tão conhecido em portugal. As primeiras experiencias do seu cilindro realizaram-se em 1911 no Mediterraneo, depois do que se foi aperfeiçoando, pouco a pouco, com a colaboração das autoridades navais do seu pais.
Na sua expedição mediterranea será acompanhado por seis sabios, representando a América, a Inglaterra, a Alemanha e a Espanha, devendo tomar parte nas actuais experiencias miss Alan reed.
O dr. Hartman, interrogado sobre os seus propósitos, declarou:
- As explorações experimentais que vamos realizar no Mediterraneo são ensaios definitivos do meu aparelho aperfeiçoado. Não se pode avaliar ainda a importancia pratica da exploração das profundidades submarinas mas o que se pode predizer desde já é que as gerações futuras dependerão largamente do mar para o fornecimento de petróleo, dos minerais, do carvão e da propria alimentação.
- A superficie do globo terrestre encontra-se mergulhada em sete decimas partes. Ora cinco décimas partes estão cobertas por uma altura de agua de 4.000 a 6.000 metros. Em vinte pontos, pelo menos, esta profundidade atinge os 8.300 metros.
- Todas estas enormes regiões estão por explorar e, por assim dizer, desconhecidas para além dos 100 metros de profundidade. O conhecimento da superficie terrestre é de 516 milhões de quilometros quadrados dos quais apenas 142 milhões são de terra. As riquezas inexploradas do oceano devem ser enormes, mas o homem precisa de desenvolver um grande engenho para conseguir aproveita-las.
- Vou começar a exploração do leito do Mediterraneo a mais veneravel região da história, escolhendo profundidades moderadas de 350 a 1.700 metros para os primeiros ensaios.. espero realisar com o meu aparelho a primeira grande conquista do homem sujeito as pressões formidaveis das grandes profundidades maritimas, permitindo-me também observar exactamente a fotografar a vida subamrina.
R. S.
[com uma imagem]
R.S. - "Ambição. Os tesouros que jazem no fundo do mar"
in Diário de Notícias
de 25 de Setembro de 1925, nº. 21439, p. 1 (c.2). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=3410.
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