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Texto da entrada (ID.3423)

Coisas espantosas

Se me não falha a memória, Camilo escreveu um livro sob este titulo. Eram coisas espantosas referentes a situações determinadas por sentimentos, como por se por nesta materia houvesse novidades que dizer. Coisas espantosas nos estão apresentando dia a dia os homens que laboram na investigação científica e arrancando parcela a parcela as forças da natureza os seus intimos segredos

Ja por varias vezes tenho dito aos leitores que os nossos alimentos habituais contem em muito pequenas quantidades diverdas substancias que nos são indispensaveis. Se os mesmos alimentos forem preparados forem purificados aponto de ficarem inteiramente desprovidos dessas substancias que nos são necessarias quantidades minimas sobrevem doenças varias , paragem de crescimento e mesmo a morte.

Sucede que nem todos os alimentos que habitualmente usamos contém aquelas substancias. Uma delas, a chamadas vitamina A, existe nas gorduras das visceras, no leite dos ovos, nas folhas verdes das plantas, etc, mas não se encontra, por exemplo, no azeite da oliveira e no toucinho. Outra, a vitamina D por cuja privação nos aparecem lesões de raquitismo e que é abundante no oleo de figado de bacalhau, também se não encontra no toucinho nem no azeite. Respectivamente a outras vitaminas se poderiam fazer considerações semelhantes pois é certo que qualquer delas existe nuns e falta noutros dos nossos usuais alimentos.

Por ser já do conhecimento vulgar que as substancias indispensaveis a nossa alimentação mais eficazes em quantidades pequeníssimas não constitui hoje  esse fenomeno paara nós coisa espantosa.

Supõe-se em geral que as vitaminas, substancias quimicas, embora não tenahm podido ser isoladas e identificadas. O tratamento das doenças causadas por sua falta deve portanto consistir em agregar á alimentação do doente comestiveis que que as contenham e assim se tem feito. Ora veio-se a descobrir que isto não é necessario, em certos casos, e que a acção dos raios ultra violetas tem igualmente acção curativa.

Já é admirar que a acção da luz equivalha á acção alimentar duma substancia. Terá de admitir-se se as vitaminas são na verdade substancias quimicas e não estados fisicos especiais da materia que o organismo dos animais sobre que se experimenta adquire, pelo facto da irradiação, propriedades que até então não possuia de formar vitaminas. Mas muito mais de admirar é que a acção da Luz sobre os proprios alimentos  (?) estes com vitaminas . isto é, torne ração alimentar completa , uma ração deficiente por carência dessa vitaminas.

Vou explicar-me melhor. Suponha-se uma dieta para ratos incompleta por falta de vitaminas A, dieta de que faz parte como gordura, o óleo de linhaça. Os ratos adoecem. A outros ratos deu-se a mesma alimentação tendo porém, previamente sujeito aquele óleo á acção dos raios ultravioletas. Neste caso, os ratos não adoecem, isto é, comportam-se como se lhes fosse dada alimentação completa sob todos os pontos de vista.

Assim, por acção dos raios ultra-violetas, conseguiu-se dotar com vitaminas, isto é, tornar proprios para a alimentação relativamente aos efeitos da vitamina A, quaisquer oleos ou gorduras sólidas. Só os oleos rançosos se mostraram inabeis para adquirir essa propriedade.

Notou-se ainda que a irradiação não deve prolongar-se demasiadamente aliás as faculdades nutritivas do óleo ou gordura, que por este meio se adquiriram decrescem e desaparecem por fim. O oleo de figado de bacalhau, tão rico em vitaminas perde-as por irradiação prolongada.

Creio que, na verdade, são coisas espantosas que aumentam a confusão feita nos últimos anos entre os factos antigamente classificados como fisicos uns, como quimicos outros. Sabiamos acerca da luz, que a vida na terra dependia dela visto que sem ela as plantas verdes não realizam a função clorofilina. Vê-se agora que ele é indispensavel para a realização de outros fenomenos quimicos de sintese tambem indispensaveis para a conservação da vida.

Sob este aspecto é interessante o que se observou com o óleo de côco, que tem vitaminas sem carecer de irradiação. Steenbock atribui esta propriedade á preparação do oleo feito no campo sob o sol tropical visto que a mesma preparação realizada á luz difusa dos nossos laboratorios dá origem a óleos desprovidos de vitaminas como o oleo de linhaça ou o azeite.

Assim, mais uma vez se demonstra que o Sol é o verdadeiro criador da vida, e que tinham razão os nossos antepassados quando adoravam o Sol nos planaltos da Asia central que foram seu primeiro dominio.

F. Mira.

[seguem-se respostas a leitores]

(...).


Referência bibliográfica

F. Mira - "Crónica medica" in Diário de Notícias de 9 de Outubro de 1925, nº. 21452, p. 4 (c.1). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=3423.



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