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Um novo tratado de paralisia geral

Não tenho na memória que ideia levou o medico austriaco Wagner, em 1917, a inocular o parasita causador das sezões terçãs, em doentes atacados de paralisia geral. Creio, porém, que não foi guiado pela suposição de que houvesse uma acção especifica por parte do agente do impaludismo. Por ventura Wagner pensou no efeito da simples elevação de temperaturas, sabendo que a marcha da paralisia geral tem sido modificada favoravelmente por essas temperaturas altas dependentes de doenças febris espontaneas ou da injecção de certas substancias como a tuberculina, a vacina antitifica, etc. Ora as sezões têm, para esse efeito, a vantagem de produzir uma considerável ascensão de temperatura, ao que acresce a de ser uma doença que facilmente se domina, administrando quinino, logo que se queira terminar ou interromper a experiencia terapeutica.

A experiencia de Wagner foi continuada por medicos de Hamburgo que, em 1920, publicaram noticia de 33 casos de paralisia geral tratados pelo mesmo sistema. Desses 33 casos, 17 foram seguidos durante o tempo suficiente para se fixarem opiniões sobre os resultados colhidos. Notaram-se acentuadas melhoras em 12 doentes, sendo, para alguns, melhoras equivalentes á cura ou, para mais cautela no dizer, a completas remissões já de considerável duração.

Wagner publicou uma estatistica importante em 1922 referente a 294 casos de paralisia geral tratados pelo mesmo processo. Depois apareceram outras com resultados mais ou menos favoráveis. O conjunto dessas estatisticas indica que o método do tratamento deu resultados apreciaveis em 25 a 30 por 100 casos.

Aconselha-se inocular o virus palustre por injecção de sangue de um doente de sezões terçãs  ou sob a pele ou dentro de uma veia havendo neste ultimo caso, a unica vantagem de se encurtar o periodo de incubação, isto é, o numero de dias que decorrem entre a injecção e a eclosão do primeiro acesso palustre. Depois de 8 a 12 acessos interrompe-se o tratamento curando as sezões por meio do quinino. É claro que o tratamento tem inconvenientes visto que submete o paralítico geral a uma outra doença, e só pode ser realizado com vigilância continua do médico, para que este possa interrompê-lo de pronto, se isso se tornar necessário.

Parece que, os resultados são melhores quando o tratamento é feito pouco depois do início da doença. As complicações, em regra não são de temer, mas num ou outro caso, por ventura correspondentes a formas especiais de paralisia geral, aparecerem crisies convulsivas que, embora raramente, podem levar à morte.

Este processo de tratamento tem outro inconveniente sob o ponto de vista da saude publica. Os doentes por ele tratados podem constituir focos de onde irradie o impaludismo. Por isso na Alemanha e na Inglaterra, onde o mesmo tratamento se está fazendo em larga escala, as autoridades sanitárias dispuseram que só pode fazer-se em hospital, sob constante vigilancia médica, e mantendo-se os doentes em locais onde não possam entrar mosquitos que se infectam e propaguem depois as febres palustres.

O que ha de mais interessante nestes casos de tratamento de paralisia geral é que as melhoras, muitas vezes, só começam algum tempo depois de cessarem os acessos palustres, e vão lentamente progredindo. Isto indica que a cura não depende da hipertermia e que haveria, portanto, uma acção especial do virus palustre.

Já em outros tempos as sezões foram consideradas como um mal antagonico de outros males, afirmando-se por exemplo, que os impaludados não eram sujeitos a sofrer de tuberculose. Tive, na minha terra, evidentes provas do contrario. Já quanto á paralisia geral nada posso dizer. Nunca observei em Canha qualquer caso de paralisia geral, talvez porque me virtude dos meus patricios, naquele tempo em que eu os tratava, os conservassem libertos das infecções sifiliticas.

F. Mira

[seguem-se respostas a questões colocadas por leitores]


Referência bibliográfica

F. Mira - "Cronicas medicas" in Diário de Notícias de 13 de Outubro de 1925, nº. 21456, p. 3 (c.2). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=3432.



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