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Texto da entrada (ID.346)

As modernas theorias relativas à electricidade e à matéria

por

Madame Curie

(da Revue scientifique)

(continuação)

Sabe-se que os gazes no estado ordinario não possuem, quando estão submetidos a campos electricos fracos, senão uma conductabilidade tão insignificante , que passam por isoladores notaveis. Mas não se dá o mesmo caso para os gazes sob certas acções exteriores. Assim um gaz pode-se tornar conductor quando é atravessado por um feixe de raios Roentgen.

Vejamos um electroscopio. Constatamos que se não produz desperdicio rapido da carga. Se um feixe de raios Roentgen penetra o ar que rodeia o prato do electroscopio, produz-se a descarga rapidamente. Não é necessário que os raios venham ferir o prato; é sufficiente que atravessem o ar a uma distancia em que o campo electromagnetico do electroscopio é sensivel. Podemo-nos assegurar d’este facto, canalisando o feixe de raios por meio de um tubo metallico cujas paredes sejam densas e desviando o prato do electroscopio do caminho seguido pelos raios. D’aqui se conclue que foi o gaz que teve uma modificação que o tornou conductor. Diz-se então que o gaz está ionisado e admitte-se que algumas das suas moleculas foram decompostas pelos raios, e que cada uma d’ellas deu logar á formação de dois ions com cargas eguaes e de signaes contrarios. Estes ions põem-se em movimento sob a acção do campo electromagnetico, com uma velocidade tanto maior quanto mais forte é o campo. Se, por exemplo, o electroscopio está carregado positivamente, os ions negativos lançam-se para elle e descarregam-n’o, ao passo que os ions positivos se dirigem em sentido inverso e vão neutralisar a carga que se achava na outra extremidade das linhas de força que emanam do prato.

Se o gaz submettido á acção dos raios se achar abandonado a si proprio, sem que um campo electrico arraste os ions, a conductibilidade desapparece espontaneamente; dizemos que os ions se tornaram a combinar para formar moleculas neutras.

Acabo de dizer que existem no gaz centros carregados moveis que se encaminham para o prato do electroscopio. Pode-se ensaiar a intercepção d’estes centros por meio d’uma placa de parafina não carregada, o que facilmente se vê n’um segundo electroscopio. Cobre-se com a placa de parafina o botão do primeiro electroscopio que está carregado positivamente. Fazendo actuar os raios durante algum tempo, os ions negativos que se dirigem para o botão são retidos pela parafina por não poderem atravessal-a, e carregam-n’a negativamente, o que se constata approximando a placa do electroscopio não carregado, o que nos dá a presença d’uma placa negativa.

Podemo-nos convencer que sob a acção dos raios Roentgen os ions produzem-se no gaz em quantidade limitada, durante um tempo dado. A velocidade de descarga do electroscopio, póde ser medida pela velocidade da queda da folha de oiro. Esta velocidade augmenta com a carga do electroscopio, facto este que se explica facilmente. Com effeito, quanto mais farto é o campo electrico, tanto maior é a velocidade dos ions, e menos probabilidades ha de que estes se tornem a combinar no seu encontro. Mas para uma carga sufficientemente grande, a velocidade da descarga já não depende da carga. E então que se não produzem mais combinações; todos os ions são utilisados para o transporte da corrente. A corrente toma então o nome de corrente de saturação.

Manifesta-se uma dyssemetria profunda entre as propriedades dos ions positivos e as dos ions negativos. Esta dyssemetria põe-se facilmente em evidencia pelos gazes das chammas, que são ionisados e conductores. A approximação d’uma chamma produz a descarga d’um electroscopio. Não é necessario o contacto da chamma; basta que os ions se produzam na região á qual se estende o campo electrico. É sufficiente a attracção da carga do electroscopio para extrahir da chamma os ions de signal contrario que a neutralisam, phenomeno que se effectua sempre, seja qual fôr o signal da carga.

Vê-se, além disso, que uma chamma isolada e collocada entre os dois pratos d’um condensador carregado, inclina-se para o prato negativo; quer dizer, a chamma carregou-se positivamente. Provem este facto, de serem os ions negativos, produzidos na chamma, muito mais pequenos, e por consequencia muito mais moveis do que os ions positivos, são muito mais facilmente extrahidos da chamma que por esta razão toma um excesso de electricidade positiva.

Nos gazes frios, os ions positivos e os ions negativos têm mobilidades pouco differentes e mais fracas que nos gazes quentes. Admitte-se então que são formados por agglomerações de moleculas que estão em torno dos centros carregados pela attracção electroestatica.

(continua

Iman

(Trad para o Diário dos Açores)


Referência bibliográfica

Madame Curie, Iman (trad.) - "Revista Scientifica - As modernas theorias relativas à electricidade e à matéria" in Diário dos Açores de 5 de Outubro de 1907, nº. 4904, p. 1 (col. 1-2). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=346.



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