A Mascara facial no esforço
Observações scientificas e impressionantes do celebre dr T. Mackenzie sobre o reflexo dos grandes esforços desportivos no rosto dos atletas
O dr. Rui Mackenzie, autor do artigo que a seguir trascrevemos, traduzido da revista scientifica “Esculape” é canadiano e professor de cultura física na Universidade da Pensilvania. As gravuras que publicamos são reprodução de trabalhos do mesmo homem de sciencia, reproduzindo e exemplificando fielmente pela sua arte magnifica de impressões colhidas do natural.
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O estado fisiologico do atleta, durante o esforço muscular, traduz-se no rosto, por mais que o atleta procure dissimular: toda a musculatura entra em jogo na ocasião dos esforços violentos. Durante a a concentração interna que a vitória exige, a parede toráxica está imobilizada, a “glotte”, ou seja a abertura da laringe que serve para a emissão de voz, está fechada, servindo os pulmões de colchões de ar á caixa (?)-diafragmatica que os aloja; todos os musculos do tronco estão contraidos e o esforço desenvolvido exige uma descarga, de certo modo explosiva, de energia nervosa, cuja intensidade se mostra na rigida musculatura da cara.
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Reparai na mascara nº 1,reproduzindo “O esforço”. A cara, neste caso, mostra mais convergencia geral das linhas para a raiz do nariz, com rugas transversais na cana. Os supercilios estão enrugados e abaixados, reduzindo os olhos a pequenas fendas. Do angulo externo do olho parte um largo pé de galinha, que acompanha tod a contracção interna do orbicular. O nariz e o la´bio superior têm uma expressão de mau humor; as narinas estão dilatadas e o lábio superior aperta-os contra os dentes cerrados, salvo nos cantos da boca, onde se vêem dois pequenos sacos causados pela tracção do grande “peancier” que se salienta no pescoço em cordas divergentes. A expressão da fisionomia é desagradável quasi repelente e corresponde plenamente á cara de “raiva”, tal como a descreve Darwin na sua “Expressão das emoções no homem e nos animais” (Expressions of the Emotions on Man and Animals); os labios são, todavia, mais arregaçados que no estado puramente emotivo: os dentes serrados mostram-se dando á mascara o aspecto (‘) homem prestes a apanhar ou a a despedaçar á dentada um inimigo.
Sir Charles Bell, no seu livro sobre a “Expressão das Emoções” (Expression of the Emotions) mostra-nos uma cara que perfeitamente correspondia em muitos pontos a esta mascara do “esforço”. Esta expressão foi reproduzida muitas vezes por meio de excitação electrica, por Duchenne de Boulogne. Os olhos fecham-se com força em todo os esforço violento, por exemplo no grito, no espirro, no riso e no choro, ao mesmo tempo que a compressão do coração e dos pulmões por efeito da contracção muscular, ao ponto de fazer correr serios riscos os frageis vasos dos olhos. A bem dizer, os atletas fecham sobretudo os olhos no momento do esforço maximo. O grande “peancier” do pescoço entra em acção desde que um esforço violento se desenvolva, merece ele, por isso o nome de “musculo da energia”
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Reparai agora na seguinte mascara, “O esfalfamento”. A cara do homem, quasi esgotado de folego, não pode prestar-se a duvidas. O plano, ordinariamente liso, da testa, está cortado de rugas que se estendem dum extremo ao outro da extremidade interna dos supercilios levantados. A contracção dos supercilios efectua-se inversamente da que se nota na no esforço violento. Estendeu-se para cima e para dentro, pelo erecto do supercilio, ou seja o “musculo da dor”, cuja acção é visivel na expressão de desgosto, da dôr, moral, da ansiedade e do sofrimento fisico, A palpebra superior no homem quasi esgotado de folego abaixa e cobre por metade o globulo ocular, dando um ar de profundo cansaço ao sofrimento que esta região revela. As narinas estão largamente dilatadas, a boca escancarada, os labios retraem-se num desejo imperiosos de ar. O labio superior levantado ajunta uma aspecto de esgotamento tão caracterisitico deste estado, em oposição ao que se passa na dor puramente fisica ou no sofrimento moral. A cabeça inclina-se para trás, o queixo projecta-se para diante o pescoço estende-se ou convulsiona-se.
Mas depressa tende a restabelecer-se o equilibrio; a expressão que acaba de impressionar-nos afrouxa, o aspecto de angustia apaga-se da fisionomia. Encontramo-nos então em presença duma terceira mascara, a da “Fadiga”,
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Na mascara da “Fadiga” (a nº 3), os supercilios mostram um ligeiro enrugamento e as palpebras pesam como no sono; o labio superior descobre ainda os dentes, dando um vago ar de dor às faces, que estão agora decaidas. A boca está meio aberta, o maxilar descai também, e o labio inferior cai, mole, diante dos dentes já descerrados. A expressão do rosto traduz o vago do pensamento. Quando a fadiga é mais profunda, o esforço tende a impedir as palpebra de se cerrarem logo que lhes leve a paralisia crescente dos musculos da palpebra superior.
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As rugas compridas, duas vezes encurvadas, sobre a testa da quarta mascara que representa o “Esgotamento”, são, em muitas caras, associadas á expressão de surpresa ou de assombro; mas no caso de que tratamos, traduzem o esforço para levantar as palpebras que tendem a cair. As narinas estão dilatadas, os labios estendem-se para baixo e para fora; a parte inferior da cara exprime o receio de perder a respiração.
A cabeça está lançada para trás, e o queixo estendido para diante, com o fim de lhe fazer contrapeso sem a necessidade de fazer intervir o esforço dos musculos. A atitude e a expressão da cara caracterizam o ultimo esforço do atleta para triunfar do “collapsus” que o ameaça.
Inutilizado este esforço, os musculos da expressão deixam de agir e a circulação pára; as cores apagam-se; os labios tornam-se lividos e o corredor desfalece.
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