O ferro
Para transformar o minerio de ferro em “ferro fundido”, é necessario fundir esse minerio, o qual se estiver muito carregado de terra e pedras, é preciso primeiro ser limpo, em seguida moído, com uma especie de pilão e lavado por meio de um maquinismo apropriado. Assim, preparado, transporta-se para o “alto forno” grande torre feita de tijolo, tendo na parte inferior duas aberturas: uma, que se pode abrir ou fechar á vontade; outra que se dá passagem a um imenso fole, posto em movimento por uma maquina. Pelo alto do forno, deita-se carvão de madeira ou coque, que se acende, deitando-se, logo que o fogo está bem aceso, camadas sucessivas e alternadas de combustivel e de minerio, até se encher completamente o forno. Ao mesmo tempo, o fole expele, através de toda a (?) de minerio e combustivel, uma forte corrente de ar, destinado a alimentar e avivar o fogo.
São precisos muitos dias para toda aquela massa ficar aquecida a ponto de se tornar branca. Chegando a este ponto, o minerio decompõe-se; o ferro funde, unindo-se a uma pequena quantidade de carvão e cal, pouco a pouco, na parte inferior do forno, acumulando-se o ferro fundido numa grande tina destinada a recebê-lo. Abre-se nessa ocasião a fenda, praticada na parte inferior do forno, e projecta-se um jacto de ferro fundido, de uma cor branca deslumbrante, o qual, é conduzido para diferentes regos feitos no chão.
Querendo-se fabricar objectos de ferro fundido, por exemplo; colunas, grades, caldeiras, etc, submete-se o ferro fundido, já resfriado, a uma segunda fusão em um forno muito mais pequeno, onde se purifica e se torna mais fluido e apto a encher todos os interstícios das “formas”, em que é escoado.
Sendo o ferro fundido muito quebradiço, não se pode forjá-lo, martelá-lo, (?) o ferro puro, para mudar a sua forma e amoldá-lo a todos os usos ordinarios. Para transformar o ferro fundido em “ferro puro” é necessário subtrair-lhe o carvão que com ele se acha combinado, empregando-se para esse efeito, o seguinte processo: funde-se uma pequena quantidade de ferro fundido e, enquanto a massa está liquida, dirige-se para ela o ar expelido por um grande fole; pouco a pouco, o carvão queima-se e desaparecem, as impurezas ou “escoria” sobrenadam e o ferro puro torna-se bastante solido para se pode (sic) segurar nele e tirá-lo do forno. Neste estado, o ferro acha-se entumecido e cheio de poros, como uma esponja, onde se encontram impurezas ou escorias das quais se deve limpar o ferro para fazer dele uma massa solida. Para este fim é levado para uma grande bigorna onde é malhado por um martelo ou por um “martelo-pilão”, conforme as dimensões da massa de ferro; virando, sob esse martelo, a massa de ferro, em todos os sentidos, obtem-se, ao fim de alguns minutos, um fragmento de metal a que somente falta dar uma forma apropriada aos usos ordinarios: laminas, barras, triangulos, etc.
Enquanto se vai malhando o ferro, ele resfria e perde a cor branca para tornar-se de um vermelho cereja. Antes de o submeter a outras provas, é preciso aquecê-lo de novo a fim de lhe dar a consitencia necessaria. Quando o ferro já se acha no ponto, isto é, quando tem tornado uma cor branca deslumbrante, levam-no para uma oficina especial, onde funcionam os “laminadores”, que são uns cilindros de ferro unidos dois a dois e postos em movimento por uma maquina poderosa, por entre os quais se faz passar o ferro e onde toma uma forma regular. Querendo-se reduzir o ferro a folhas finas, far-se-á passar por entre cilindros muito unidos, Pretendendo-se fabricar o “fio de ferro”, toma-se uma haste de ferro de primeira qualidade, afina-se uma das suas extremidades, e aquece-se depois, toda a haste até ficar vermelha; em seguida, introduz-se a ponta afiada em um dos buracos de uma dura placa de aço, chamada fileira e, segurando-se pelo outro lado da placa a ponta da haste com uma pinça, faz-se puxar por uma maquina de maneira que toda a a haste seja obrigada a passar pelo buraco da fileira, tornando-se mais fina e mais comprida. Recomeçando a operação e fazendo passar a haste por buracos cada vez mais pequenos, obtem-se fios de ferro também cada vez mais finos.
Se tirarmos ao ferro fundido a quantidade necessaria de carvão, ou se fizermos absorver um pouco de carvão pelo ferro puro aquecido, em um vaso cheio desse combustivel, obteremos o aço. Este pode ser fundido do mesmo modo que o ferro é trabalhado no laminador; é um pouco mais duro que o ferro; para torná-lo muito duro, como uma lima, um buril, é preciso “temperá-lo”, o que se faz aquecendo-o ao rubro e mergulhando-o em agua ou sebo. O resfriamento muito subito produz uma mudança extraordinaria, tornando-o duro, elastico, quebradiço, capaz de (?) um belo polimento: é de aço temperado que se fazem as molas das fechaduras, dos relogios, dos pendulos, as serras, os instrumentos de corte.
[n.d.] - "Noticias miudinho. Pensamentos, Palavras e Obras"
in Diário de Notícias
de 13 de Novembro de 1925, nº. 21437, p. 5 (c.3,4,5). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=3482.