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Texto da entrada (ID.3502)

A cirurgia e os microbios

Desde que os cirurgioes se convenceram de que não bastava a extrema habilidade e rapidez com que se efectuavam as intervenções cirurgicas para que os doentes as suportassem sem perigo de complicações inflamatorias., a defesa contra os microbios, reconhecidos como causa dessas complicações, tornaram-se objecto dos seus maiores cuidados. Não deixa de ser importante na pratica cirurgica o operar dextramente; mas não esquecer os meios de evitar as infecções da ferida operatoria foi considerado (?) mais importante ainda. Por muito habilmente que fosse feita a intervenção, qualquer descuido donde proviesse infecção poderia por em risco a vida do doente, ou, quando mais não fosse, complicaria e demoraria o tratamento.

Há operações em que o cirurgião pode supor que só tem que contar com os microbios que consigam atravessar o cordão sanitario que estabeleceu em torno do doente. Ha outras em que a lesão que vai tratar já esta infectada e de aí decorre q necessidade de combater essa infecção. Dizia-se do tempo dos gregos, acerca dos maravilhosos balsamos que saravam repentinamente as feridas. Perdeu-se porém, o segredo como se perdeu os do remedio que secou as visceras de Job e o das drogas que permitiram a Ferrabraz de Alexandria com uns instantes de descanso para (?) voltar novamente, são e escorreito da peleia.

Quer se trate de lesões infectadas, quer se trate de lesões que se julgue o não estejam, os microbios continuam a ser, para os cirurgiões, o inimigo temivel de que é necessario separar o doente como se fosse por paredes de bronze. Os meios de o conseguir têm variado com os anos e até com as simpatias do operador. Viu-se quem tentasse destruir os microbios do ar com pulverizações de antisepticos. Houve tempo em que o sublimado corrosivo jorrava nas salas de operações, purificando utensilios, objectos,  de penso, e as mãos do operador. Alguns cirurgiões trabalhavam de rosto livre: outros com mascara lembrando quadros antigos de praticas de outros tempos observando, de longe, os pestiferos.

Tudo isto contra os microbios que, em relação ao doente, podem chamar-se externos. Mas contra os internos, contra os que lá existem reconhecidamente em lesões infectadas, ou que possivelmente existem no organismo sem ainda terem dado sinal da sua presença.

Contra esses ha quem aconselhe as vacinas. Nas supurações encontram-se commumente os estreptococos, os estafilococos, e outros microrganismos de (?). Eles podem ja existir (‘) e tomar coragem para não dizer maior virulencia com a depressão que aquele sofra por motivo de intervenção operatoria, porventura prolongada ás vezes fortemente traumatizante. Em tais doentes, a aplicação duma vacina que tenha efeito relativamente aos principais microbios da supuração, uma vacina polivalente parece, na verdade, de aconselhar. Mas como não reconhecer esses doentes em que é possivel o aparecimento duma infecção de causa interna como complicação de uma intervenção operatoria?

Tendo conta desta dificuldade, um professor da faculdade de medicina de Montevideu, em conferencia que realizou em Paris, aconselhou a vacinação sistematica pre-operatoria de todos os doentes, com a tal vaciana polivalente, exceptuando, claro é, os que tinham de ser operados com urgencia. Este tratamento preventivo consiste em três dias de intervalo entre cada injecção, realizando-se com a intervenção operatoria três dias depois da ultima.

Eis o que propõe o sr. dr. Blanco Acevedo. O leitor, a tal respeito, aceite o que o seu medico lhe disser. Eu farei o mesmo se alguma vez tiver de cair em mãos de um cirurgião.   

F. Mira

[segue-se resposta a uma questão colocada por um leitor]


Referência bibliográfica

F. Mira - "Cronicas médicas" in Diário de Notícias de 28 de Novembro de 1925, nº. 21502, p. 4 (c.1). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=3502.



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