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Os raios X ultrapenetrantes

Modernamente existe um conceito relativo á influencia solar exercida na patologia animal, que, por se nos afigurar interessante, vamos expendê-lo, conceito traduzido pelas subsequentes palavras: “Sol/doente, Terra sã; Sol são, Terra doente.

Diz-se que o sol vai adoencendo á medida que a actividade solar (manchas, protuberancias, etc.) aumenta, atingindo esta actividade, de ordinario, o seu maximo depois de decorridos 4 anos do minimo; ao contrario, a passagem do maximo ao minimo é mais morosa, levando cerca de de 7 anos, algumas vezes interrompida de minimos secundarios após o maximo principal. Estas mudanças continuas actuam por uma forma decisiva sobre a terra, a ponto da quantidade de calor recebida por esta, nas epocas do maximo, ser a 3 a 4% mais do que nas epocas do minimo.

As “manchas solares” que oferecem o aspecto dum orificio negro, quase circular e cercado duma zona acinzentada sobre o disco luminoso do Sol, são, ainda, um tanto ou quanto misteriosas; no entanto, uma das explicações mais aceitaveis da sua existencia é a de que elas são fixas na superficie do astro, com um movimento rotatorio devido ao do proprio astro e cujo periodo é de 24 dias e meio no equador solar. Elas parecem ser causadas por erupções internas do sol., as quais produzem subitos jactos de gases lançados em verticais do interior do astro para a sua atmosfera. Ignorando-se todavia as causas determinantes desse movimento turbilionario.

O numero e a importancia das manchas solares variam segundo um periodo de cerca de 11 anos no decurso do qual a actividade solar passa a por um maximo e um minimo perfeitamente caracterizados, constituindo um ciclo em que não é raro observar 20 ou 30 nucleos de manchas nas epocas do maximo, não obstante decorrerem muitas semanas sem se ver uma unica nas epocas do minimo.

A investigação da causa da periodicidade das manchas está sendo estudada pelo iminente professor Wolf, de Zurich o qual, construiu um pequeno quadro com as datas dos maximos e com a incerteza provavel da sua determinação, a principiar em 1615, tarefa bastante ardua porque nenhum astronomo antes do amador Schweb, de Dessau, observou as manchas por uma maneira sistemática.

O facto da sua produção ou antes, da acção excitadora de uma causa preexistente do Sol é atribuida á influencia que os planetas Jupiter, Mercurio, Terra e Venus exercem simultaneamente sobre o Sol, produzindo perturbações ou “mares” analogas ás mares que se dão na superficie terrestre pela acção combinada da Lua e do Sol, em virtude do principio da igualdade da acção e da reacção.

Um outro aspecto curioso que se dá no Sol -e que é imputado á polaridade das manchas- é o efeito do seu campo magnético, o qual se exerce por um modo incisivo no magnetismo terrestre e ainda na electricidade atmosférica, elemento este digno de interesse, ao presente, no estudo do tratamento da tuberculose.

No interior minimo da actividade solar (1912), ficou averiguado que as manchas do novo ciclo apareciam sobre o disco do Sol em latitudes elevadas e com uma polaridade oposta aquela do velho cício, porquanto, ao passo que as manchas do ciclo precedente no hemisferio Norte tinham polaridade Sul e, no hemisferio Sul tinham polaridade Norte, as do novo ciclo aparecendo aos pares tenham polaridades perfeitamente opostas ás do anterior. No novo ciclo, começado em 1923, denota-se exactamente a mesma orientação, sendo, no entanto, totalmente desconhecida a causa de tão notaveis variações.

Astuberancias parecem provir de erupções na atmosfera solar, tendo como resultado explosões violentas dos gazes da sua propria atmosfera.

Também a imprensa diaria se fez (?) da descoberta de raios X ultrapenetrantes na nossa atmosfera, pelo professor Milken, o que não nos deve surpreender se considerarmos que o aspecto solar fica compreendido entre os limites; ondas electromagneticas e raios (“gama”) do radium, os quais são ainda de maior frequencia  e de menor comprimento de onda do que qualquer especie de raios X, embora exista uma grande variedade desses raios. A impressão desta descoberta é devida pois ao mistério em que tem andado envolvida a curta historia dos raios X, o que, por assim dizer, foi desvendado em 1912, pelo professor Lane na sua celebre experiencia (passagem de um feixe de raios X através dum cristal) a qual marcou uma nova era e mostrou, ao mesmo tempo, que os comportamentos de onda dos raios X variam entre largos limites, conforme as condições da sua emissão; é obvio que para os resultados contribuiu, também, brilhantemente o estudo da constituição dos atomos por Bohr em 1903.

Estes e outros fenomenos a que nos poderiamos referir, servem para corroborar a afirmação acima exarada da influencia solar na patologia animal o que torna o astro rei digno de profundo estudo, se bem que uma outra circunstancia que nos ocorre agora, não obstasse para o demonstrar que é a de terem sido descobertos corpos existentes na superficie terrestre, primeiramente, no Sol do que na Terra, como por exemplo o helium.

E o que sucede com o Sol, cremos tambem ser aplicavel aos outros astros do nosso sistema planetario, ocupando um lugar primacial a Lua, para a qual ainda há anos, um sabio contemporaneo reclamava a tenção dos scientistas de todo o mundo, a fim de contribuirem com as suas investigações para a valiosa obra que ele estava publicando, composta já de alguns volumes.

Igualmente a influencia cometaria não deve ser esquecida e de que foi grande apologista pela aliança do estudo dos fenomenos meteorologicos e dos fenomenos fisiologicos nas causas miasmaticas das nossas doenças, o antigo sabio medico J. V. Raspall.

8-XII-25

A. Ramos da Costa


Referência bibliográfica

A. Ramos da Costa - "Sol doente terra sã" in Diário de Notícias de 13 de Dezembro de 1925, nº. 21515, p. 9 (c.1). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=3518.



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Astronomia

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