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A sangria
Na primeira metade do seculo passado, a sangria era pratica tão comum como são hoje as hostias de aspirina e as injecções sub-cutaneas de cacodilato de sódio. Um ilustre medico de Montpellier, fundado num conceito teorico da origem das doenças tinha posto em moda aquela terapeutica. Conservou-se ela durante muitos anos, os bastantes para que se dissesse que a lanceta de (?) tinha derramado mais sangue do que a espada de Napoleão I.
[lê-se mal]
Sangrava-se, no entanto, no meu tempo de medico e sangra-se hoje. – hoje um pouco mais-obedecendo porem a restritas indicações que se baseiam no melhor conhecimento que temos dos efeitos daquela medicação. Deixando as teorias gerais, como as de Broussais e de outros, e tomamos como fundamento de terapeutica a observação dos fenomenos causados pela sua aplicação.
A sangria efectuada num individuo em estado de boa saude dá lugar ás seguintes consequencias: dos tecidos saem para o sangue agua e sais, de modo que a massa sanguinea não diminui , mas sim, a proporção de glóbulos vermelhos e de albuminas e outras substancias do sangue. A pressão que o sangue tem nas arterias não pode, portanto, decrescer consideravelmente tanto mais que se nota uma diminuição de calibre nos vasos capilares, isto é, daqueles vasos sanguineos finos como cabelos que sulcam os tecidos e consttuem a passagem das arterias para as veias.
Então é natural que se façam sangrias em casos de intoxicação, que os venenos venham de fora, quer sejam produzidos no proprio organismo. A massa de sangue fica a mesma , mas as substancias venenosas diminuem. Diz o povo tira-se o sangue ruim. Na verdade, (?) algum desse sangue ruim, substituido por água e sais que os tecidos fornecem quando o medico não entra em acção (...) de soro artificial.
[Lê-se mal]
(...)
Mas não há que considerar somente a parte liquida do sangue. Os globulos vermelhos diminuem também com as sangrias e com elas a hemoglobina aquela subsytncia que se combina com o oxigenio do ar e que é, por assim dizer, o “wagon” que se carrega daquele gas e o fornece aos tecidos. Parece que, após a sangria, os nossos orfãos rubros são estimulados e rapidamente restauram as perdas sofridas, Disto resulta a substituição dos globulos antigos por novos globulos, isto é, como que um rejuvenescimento do sangue que autoriza a possivel terapeutica verdadeiramente paradoxal, de combater por sangria um estado de anemia.
Creio que são estas as principais indicações da sangria, havendo outras ainda que em que as opiniões divergem. Que é pratica util em muitos casos todos concordam hoje, embora reconheçam o ridiculo de terem existido sangradores profissionais, tanto entre nós como no resto da Europa.
F. Mira
[seguem-se respostas a leitores]
Referência bibliográfica
F. Mira - "Cronicas medicas"
in Diário de Notícias
de 28 de Dezembro de 1925, nº. 21530, p. 4 (c.1). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=3539.
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