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Texto da entrada (ID.355)

Nova caldeira de tubos d’agua

Systema Almeida Guimarães

  Tem sido objecto de grande interesse na corporação da armada principalmente entre os engenheiros o recente invento de caldeiras de tubos d’agua que se deve a dois dos seus mais distintos membros, os srs. Guilherme Joaquim d’Almeida, engenheiro sub-chefe e Henrique d’Oliveira Guimarães 2.º engenheiro, ambos em serviço da repartição technica do arsenal da marinha, sob as ordens do illustre engenheiro mr. Croneau.

  As opiniões profissionaes mais auctorisadas teem sido unanime em dar a approvação ás caldeiras de tubos d’agua inventadas por esses habeis engenheiros machinistas, prevendo-lhes um grande sucesso por possuirem aperfeiçoamentos que as torna muito vantajosas em relação aos demais typos estrangeiros já conhecidos, considerando este acontecimento com a gloria nacional.

  Com effeito, sendo hoje as caldeiras dos diversos typos de tubos d’agua, quasi as unicas que se empregam na marinha de guerra, com grandes tendencias a serem adoptadas em grande escala tanto namarinha mercante como em terra nas industrias fabris, é naturalissimo que cause enthusiasmo um invento nacional de tão grande importancia.

  Entre as vantagens da caldeira Oliveira Guimarães, sobressae a facilidade com que se póde substituir um dos seus tubos em mau estado, sem que para fazer tal reparação haja necessidade de apagar o fogo das suas fornalhas, nem tão pouco de despejar a agua que ella contem, operações estas que em qualquer caldeira até hoje conhecidas são absolutamente imprescendiveis.

  Mas não ficam por aqui os aperfeiçomentos que n’ella introduziram os illustres inventores.

  Actualmente, uma varia desta natureza, nos typos de geradores empregados, tem todas as probabilidades de causar desastres materiaes e pessoaes de não pouca importancia; ha bem poucos dias tivemos um exemplo com o que aconteceu na fabrica de moagens em Alter do Chão, onde alem do prejuizos do edifico houve a lamentar a perda de duas vidas e ainda assim, porque, infelizmente a hora a que se deu o desastre mais ninguem estava ali proximo.

  No novo genero de caldeira, nada d’isso deve succeder; a porção de agua que sae, quando se declare uma ruptura no tubular, é pequenissima e apenas em quantidade sufficiente para fazer amortecer o fogo e por conseguinte permitir que se proceda immediatamente á substituição do tubo em mau estado, sem que para isso seja necessario proceder á manobra de valvulas, torneiras, obturadores etc.; tudo se faz automaticamente, mas com segurança, pois que para maior vantagem todos esses funccionamentos podem verificar-se exteriormente em qualquer momento afim de se reconhecer se essa automaticidade é real.

  A paralysação de funcionamento d’uma fabrica fica pois reduzida a um minimo de tempo notavel sem contarmos que se póde com mais facilidade dispensar a existência das caldeiras de reserva, pois que a maior das avarias susceptível de se dar tem remedio tão prompto realisando uma economia importante.

  Dizem-nos tambem que a conducção d’estas caldeiras não exigem habilitações especiaes da parte dos fogueiros que com ellas trabalhem, por ser o seu ffuncionamento de grande simplicidade.

  Esperamos dos poderes publicos a devida protecção dos inventores ordenando que se proceda ao exame consciencioso do typo de caldeiras de tubos d’agua «Almeida Guimarães» e caso seja approvado como é de se esperar, julgamos de grande conveniencia e utilidade que se adoptem estes geradores para os nossos navios de guerra, onde decerto prestarão grandes serviços.

  O facto de pertencerem os dois inventores á nossa marinha militar, é motivo para nos regosijarmos, mas é indespensavel que não deixemos ir estes melhoramentos tão importantes para o estrangeiro em os utilisarmos, despresando-os a principio para mais tarde os acceitarmos de braços abertos, quando venham com marca estrangeira.

  Convençamo-nos que em Portugal tambem se póde imaginar e fazer muita cousa útil e confiemos em que, dado o primeiro impulso, a construção d’estas caldeiras far-se-ha não só para a marinha de guerra, mas tambem para a matinha mercante, industrias fabris e exportação para Africa, onde ellas são muito adoptaveis, visto que se podem dividir em peças de pequenas dimensões e pouco peso, facilmente transportaveis para pontos distantes do litoral, mesmo com difficuldade de communicação.


Referência bibliográfica

[n.d.] - "Nova caldeira de tubos d’agua" in Diário de Notícias de 21 de Dezembro de 1900, nº. 12589, p. 2 (c. 3). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=355.



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