Telegraphia duplex
A correspondencia telegraphica tem tomado nos ultimos annos um desenvolvimento tão prodigioso, que os systemas telegraphicos mais aperfeiçoados sob o ponto de vista da simplicidade dos signaes e da rapidez da sua transmissão tornaram se insufficientes. A habilidade dos melhores telegraphistas – diga se de passagem temol-os como nenhuma outra nação – não póde supprir esta insufficiencia; e muitas occasiões ha em que as estações telegraphicas se vêem sobrecarregadas de despachos, cuja transmissão é feita com notavel demora e prejuizo do publico, apesar da melhor vontade dos empregados incumbidos d’ese [sic] serviço.
A diminuição progressiva do preço das correspondencias telegraphicas veio ainda augmentar os inconvenientes que deixamos apontados.
Qual seria o processo de augmentar o expediente das linhas? Tal era o problema cuja solução se impunha as administrações telegraphicas.
A idéa que a principio pareceu ser a mais natural e a mais simples, foi a de multiplicar o numero de conductores entre os centros de maior movimento e a de augmentar proporcionalmente o numero de empregados incumbidos da recepção e expedição dos telegrammas. Esta resolução podia effectivamente applicar se ás linhas de pequeno percurso como são as urbanas, e é, n’estas condições, a mais economica; torna-se porém, impraticavel nas linhas de grande extensão cujo estabelecimento, além de caro, exigiria grandes despesas de construcção, reparação, vigilanca e conservação.
Foi por isso necessario procurar outra solução do problema e imaginar processos capazes de augmentar a capacidade de transmissão de um unico fio.
Conseguiu-se e se resultado por diversas maneiras e uma d’ellas é a que consiste em expedir ao mesmo tempo, pelo mesmo fio, dois despachos, quer em sentidos contrarios, quer no mesmo sentido.
Quando a transmissão simultanea dos dois telegrammas se effectua em sentidos contrarios, isto é, quando as duas estações transmittem ou recebem ao mesmo tempo, este systema de transmissão chama-se «duplex». Se os dois telegrammas percorrem o fio ao mesmo tempo e no mesmo sentido o systema tem o nome de «diplex». Finalmente o «quadruplex» consiste na combinação do «duplex» e do «diplex» de maneira que um unico fio serve então para a transmissão simultanea de quatro despachos: dois no mesmo sentido e dois em sentido contrario.
Estas denominações não se applicam a apparelhos telegraphicos de uma natureza especial; são apenas disposições adoptadas para a combinação dos orgãos de transmissão electrica e que são geralmente applicaveis a todos os apparelhos «Morse», «Hughes», «Wheatstone», etc.
O problema de que vimos tratando foi primeiramente resolvido pelo sabio austriaco, o dr. Gintl, de Vienna, mas a sua applicação pratica só muito mais tarde se tornou realisavel.
Depois d’isso foram inventados um grande numero de systemas analogos cujo principio geral nós não podemos descrever por absoluta falta de espaço e porque nos consta que elle vae ser tratado no primeiro numero da excellente «Revista Telegrapho-Postal», orgão, d’aquella prestimosa classe cujo 1.º numero apparecerá em 1 de novembro proximo.
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Ha muito que entre nós se pensa na introducção d’este grande melhoramento, que vem fazer uma revolução completa no nosso serviço telegraphico, mas essa idea tem sido sempre addiada, porque o mau estado das linhas, a falta de pessoal convenientemente educado e até a escassez da verba para a acquisição de apparelhos telegraphicos aperfeiçoados teem obstado á sua realisação.
Com uma pertinacia digna dos maiores elogios e apesar de algumas más vontades, o sr. conselheiro Benjamim Cabral, illustrado inspector geral dos telegraphos, acaba de vencer todas as difficuldades e o estabelecimento do systema «duplex», entre nós, é hoje uma realidade, que as experiencias de hontem effectuadas coroaram do maior e melhor exito.
Da montagem em Lisboa foi incumbido o 2.º official Luiz de Campos Fragoso, e no Porto o 1.º aspirante Bernardo Bartholomeu Moniz da Maia, dois novos de quem a corporação tem muito a esperar.
O bom exito das experiencias deve-se tambem em grande parte aos srs. João Henriques dos Santos e José Thomaz Ribeiro que, com uma dedicação, nada vulgar, pelos serviços que lhes estão confiados, teem conseguido pôr em estado de regular funccionamento as linhas telegraphicas em geral, e em especial as de Lisboa ao Porto que haviam sido mal construidas e peior [sic] conservadas e reparadas.