Texto com 15 fotografias do fotógrafo amador José Mesquita, sobre a produção de cana do açúcar e seu tratamento industrial, tentanto contrariar uma ideia, que o redator afirma estar em voga, de que as colónias não são desenvolvidas à semelhança das de outros países.
“É bastante falsa a supposição, que voga correntemente, de que não fazemos nada na Africa e de que as colonias que possuímos de um e outro lado do continente são modelos de deslaexo administrativo e de abandono da iniciativa individual, em contraste deprimente com as das outras nações colonisadoras. (...) E. comtudo, por numerosos que tenham sido os erros administrativos commettidos, nem tudo o que existe hoje na nossa organisação official da Africa portugueza é inferior ao que está estabelecido nas outras colonias estrangeiras, nem o esforço da actividade particular e do capital privado, na colonisação d’essa parte mais vasta e valiosa do patrimonio nacional ultramarino, é tão escasso ou improfícuo, como geralmente se tem a idéa preconcebida. Pelo contrario até, governos, companhias e energias isoladas teem-se consagrado dedicadamente, desde há alguns annos, a incitar e promover o desenvolvimento das nossas industrias e do nosso commercio africanos, alcançando os mais lisongeiros resultados. As companhaias coloniaes, que principiam a sair do seu periodo de organisação e de iniciação, para entrar n’uma epoca de vantajoso florescimento, são a melhor prova disso.
Citaremos hoje, como exemplo, uma das nossas mais importantes companhias agricolas da Africa Oriental, cujas fazendas sua alteza o Principe Real teve occasiao de visitar na sua recente viagem. É a Companhia do Cazengo, nascida há apenas sete annos, e que se mostra desde já predestinada para o mais auspicioso futuro.
Esta companhia organisou-se com o fim de emprehender a exploração agricola, industrial e commercial de um grupo de importantes propriedades situadas na feracissima região de Cazengo, na provincia de Angola, que o Banco Nacional Ultramarino tinha na sua posse, e constituidas na sua maior parte por plantações de café. Os terrenos são ricos e bastante irrigados, occupando uma vasta area de extensão. O caminho de ferro de Loanda a Ambaca, que os atravessa num percurso de noventa kilometros, tem n’elles tres gares principaes e varias outras secundarias, o que torna muito facil o embarque e o desembarque de mercadorias e productos agricolas. Todas as propriedades possuem installações magnificas destinadas ao alojamento do pessoal, bem como os machinismos mais aperfeiçoados. As plantações do café são tão importantes que a companhia poderá facilmente colher milhão e meio de kilogrammas nos annos normaes sob o ponto de vista climaterico. Além d’estas, todas em plena producção, já nas propriedades do Cazengo outras plantações que, comquanto sejam menos importantes em superficie de terrenos cultivados, representam entretanto um grande valor não só pela riqueza dos eus productos, como pelo desenvolvimento que pódem attingir. Taes são, principalmente, as de differentes especies de borracha, kola, algodão, palmeiras, etc.
Além dos cafezaes a companhia possue tammbem a propriedade Bom Jesus, situada no departamento de Calumbo, na margem direita do rio Quanza, a 96 kilometros de Loanda pelo caminho de ferro. Será difficil encontrar em toda a Africa occidental outra propriedade comparavel a esta pela riqueza do seu sol, aptidões culturaes e facilidade de irrigação. A cana de assucar que ali se cultiva produz admiravelmente e e é de uma excellente qualidade. A cada de habitação do pessoal europeu, os escriptorios, os ateliers de construcção e de reparação das machinas, as installações da luz electrica, os depositos, a fabrica, os estabulos, encontra-se tudo installado nas mais excellentes condições.
A fabrica de assucar só em setembro ultimo poude começar a trabalhar com fim industrial, por isso que necessario foi refazer, substituindo-as por completo, as velhas plantações da fazenda, que, devido á muita edade, já pouco produziam.
Este trabalho concluiu-se no corrente anno, tendo-se mesmo alargado a area plantada da antiga fazenda, e para que esse alargamento se faça ainda mais e rapidamente, vae ser installada lavoura a vapor. de sorte que em breve será utilisada toda a capacidade de producçao da fabrica de assucar.
(...)
A cana de assucar é uma das culturas industriaes que em Africa tem seguramente garantido um mais largo futuro. O desenvolvimento que a Cornpanhia do Cazengo está imprimindo, pois, ás suas plantações especiaes e ao respectivo fabrico, representa consequentemente para ela um elemento indiscutivel de prosperidade, çujas consequencías naão deixaraão de accentuar-se dentro de pouco.”


n. id.. - "As Nossas Grandes Culturas Coloniaes, A Canna Saccharina"
in Illustração Portugueza
de 4 de Novembro de 1907, nº. 89-2s, p. 586-592 (páginas completas). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=3698.