Texto com 20 fotografias.
Texto de homenagem ao naturalista, na sequência da sua morte, em 3 de novembro de 1907.
Após referir a sua importância e a grande perda que representa a sua morte para o país, o desaparecimento do “Nestor da zoologia” que “era lá fóra o mais celebre e respeitado de todos os portuguezes contemporaneos, representaria sempre um aperda curla e dolorosa para a sciencia e quase insusbstituivel para o paiz;”:
“Comtudo, uma triste confissão a fazer é que o nome glorioso de José Vicente Barbosa du Bocage, que galgára de ha muito as resttictas fronteiras de Porrugal, e em toda a parte onde se estuda e pensa era conhecido e se tornara prestigioso, não alcançára, exactamente, a dentro da patria, a mesma homenagem, o culto consciente que merecia. Parece-nos, por isso, justo e opportuno dizer aqui sucintamente, sem apparato scientifico, para lição de todos, o que valeu o mestre, quanto trabalhou, quais foram os resultados do seu ensino e do seu estimulo, e ainda relembrar numa leve referencia, o seu nobre proceder como cidadão, que representa também uma lição, a qual não é seguramente menos bella que as da sua cathedra ou do seu laboratorio.”
O redator faz uma breve resenha histórica dos estudos zoológicos em Portugal, referindo Rodrigues Ferreira, nos fins do século XVIII e Domingos Vandelli, que iniciaram trabalhos nunca concluídos de taxonomia. Foi Bocage que reestabeleceu as coleções, estabelecendo uma rede de recolha de espécimes e recolhendo contributos para a coleção do Museu, que viria a ter o seu nome. Refere o número elevado de publicações que fez, nomeadamente sobre vertebrados, o catálogo da fauna ornitológica, estudos sobre espécies de anfíbios e répteis, e também de esqualos.
Apesar de não se ter dedicado ao estudo dos invertebrados, o redator destaca a descoberta, de relevo internacional, de uma esponja que viria contribuir par ao reconhecimento da existência de vida no mar para além de 300 braças de profundidade.
Realça ainda os seus estudos sobre a fauna das “possessões ultramarinas”, mamíferos, aves e répteis.
Termina:
“Caberia aqui dizer tambem algumas palavras sobre o conselheiro José Vicente Barbosa du Bocage como homem político, a respeito do papel honroso por elle desempenhado como ministro da marinha em 1883, dos estrangeiros em 1884. e em 1890, e muito poderia escrever-se certamente em seu louvor neste semido tambem. Foi, porém, o homem de sciencia apenas que quizémos considerar neste artigo, e a feição mais brilhante da sua actividade, aquella em que se baseava a reputação europêa.”
Armando da Silva











Armando da Silva - "Um Grande Sabio Portuguez, J. V. Barbosa du Bocage"
in Illustração Portugueza
de 9 de Dezembro de 1907, nº. 94-2s, p. 737-744 (páginas completas). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=3707.