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ASSUMPTOS DO DIA

Assistencia Nacional aos Tuberculosos

A curabilidade da tuberculose

A tuberculose é curavel e evitavel. Eis a consoladora crença, que hoje nos incita no combate travado contra aquella enfermidade. Eis o axioma hoje solidamente estabelecido, que deve ser a toda a hora proclamado.

Não vae longe o tempo, em que a affirmação de Fonssagrives era tida como dogmatica. A tísica, – dizia aquelle grande medico, e com elle quasi todos os antigos, – a tisica nem é curavel, nem nunca o será. E tal doutrina, aterrorisando os doentes e suas famílias, e desalentando os clinicos, entregava os pobres tuberculosos á fatal marcha do seu mal, sem nunca deixar entrever um raio de animadora esperança.

Foi o immortal Jaccoud, quem com maior energia primeiro lançou a animadora asserção de que a tisica é curavel em todos os seus periodos. Antes, alguns clinicos a medo a tinham avançado, depois muitos outros a confirmaram com provas decisivas.

A antiga crença estava, porém, profundamente arraigada, e ainda hoje o publico se conserva incredulo para a nova maneira de ver, interpretando as numerosas curas apontadas como erros de diagnostico, e sentenceando sempre aos tuberculosos a inevitavel morte proxima.

Comtudo, é bem facil comprovar a nova doutrina.

Por toda a parte, onde se praticam autopsias, se encontram innumeros cadaveres de velhos, evidenciando traços de antigas lesões tuberculosas definitivamente curadas.

Schlenker, que cuidadosamente estudou este assumpto, cotejando muitas estatisticas e fazendo numerosos exames cadavericos, concluiu que de 100 cadaveres autopsiados, 35 (53%) pertencem a individuos mortos de tuberculose, 4 (6%) a tuberculosos chronicos, 27 (17%) mostram tuberculoses curadas e 34, apenas, não teem lesões tuberculosas. Assim de 61 individuos, que não morrem de tuberculose, 44% teem tuberculos (sic) latentes ou curados. Outra estatistica mais moderna faz ver que em cada 100 individuos, 50 são atacados de tuberculose n’um dado momento da sua existencia, sendo 33 de tuberculose pulmonar. Ora sabendo nós que a mortalidade da tuberculose é de cerca de 20%, vê-se quantos casos d’essa doença se curam ou ficam latentes.

A anatomia pathologica mostra que a evolução curativa se faz pela transformação fibrosa da peripheria do tuberculo, aprisionando os bacillos em dura capsula isoladora, dentro da qual se estiolam e ficam inoffensivos.

A clinica corrobora vigorosamente a moderna opinião, mostrando-nos tambem todos os dias casos de incontestaveis curas de tuberculose, obtidas espontaneamente, ou em sanatorios ou na propria casa dos enfermos, e não raro é encontrarmos individuos idosos que nos dizem terem sido em novos dados como tísicos. Goethe, que morreu com 81 annos, foi condemnado como irremediavelmente tisico aos 15. Napoleão I teve tuberculose pulmonar na occasião do cêrco de Toulon, Pean, François Coppée, Daremberg, e tantos outros vultos conhecidos, são exemplos de tuberculoses sanadas.

A tuberculose é, por consequencia, curavel em todos os seus periodos e em todas as suas formas, e a proporção das curas não é representada por numeros insignificantes. Leon-Petit considera como 40%, a proporção das curas definitivas e em outro tanto as das grandes melhoras, isto apenas pelo que diz respeito ao tratamento hygienico-dietetico nos sanatorios.

Da verdade estabelecida da curabilidade da tuberculose, deduzem-se importantes obrigações para os doentes, para suas familias e para os clinicos. Os doentes, de olhos fitos na sorridente perspectiva, devem sujeitar se completamente ás prescripções medicas, tratando-se a tempo e com as delongas e minucias, talvez fastidiosas, da moderna therapeutica, tendo sempre na mente que o ar puro, o repouso absoluto e a alimentação abundante constituem os principaes elementos da cura. O ar será puro, para não acarretar novas infecções sempre muito prejudiciaes, e para ter os elementos para o trabalho respiratorio. O repouso será absoluto, para que o organismo não desperdice as forças, que todas devem concorrer, – e nunca são de mais, – para o combate da doença, porque em regra só em organismo fraco e depauperado é que o bacillo de Kock pode á vontade fazer seus estragos. A alimentação será abundante, para que a nutrição se active, e, com ella, as funcções pelas quaes os elementos normaes do organismo combatem corpo a corpo com o microbio, empolgando-o, digerindo-o, aniquilando-o.

Á familia cumpre ter presente a possivel curabilidade, para sem concessões, – sempre prejudiciaes, – conservar o doente na hygiene indispensavel para a cura.

Todo o tuberculoso deve, portanto, ter esperanças de se curar; tendo porém a certeza que um desmando, um abuso, ou um desleixo, a todo o momento o põe em perigo de ser incuravel.

ALFREDO LUIZ LOPES


Referência bibliográfica

Alfredo Luiz Lopes - "A curabilidade da tuberculose" in Diário de Notícias de 23 de Março de 1900, nº. 12:317, p. 1 (col. 1-2). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=49.



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