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Texto da entrada (ID.493)

Devemos reparar que o repouso absoluto não existe, mesmo para o individuo condemnado á mais absoluta immobilidade physica, à maior e mais profunda inercia intellectual.

De facto, n’esse aparente repouso ha musculos que dispendem consideravel energia no trabalho da contracção permanente, como os esphincteres; outro o coração não pára um só momento no seu trabalho de bomba, levando o sangue a todas as partes do corpo, energia calculada em mais de quarenta mil kilogrametros por dia. Os musculos dorsaes e lombares supportam o peso do corpo, quer elle esteja de pé ou deitado, desenvolvendo um determinado trabalho passivo; e temos ainda o trabalho dos olhos, o da respiração, verdadeiramente notavel, o das glandulas, todo o trabalho da vida vegetativa, não contando com o trabalho do cerebro, a elaboração do pensamento, visto que já tinhamos posto de parte o dispendio d’energia do orgão central da vida physica.

Vê-se, portanto, que ainda mesmo n’um meio que permitta ao corpo a conservação da sua temperatura normal, ha um trabalho intimo, obscuro, mas consideravel, exigindo a existencia d’uma fonte p. 2 constante d’energia que não pode estar senão na alimentação.

Mas o somno? Que alteração pode introduzir no resultado d’estas considerações o somno, essa tregua tão celebrada como verdadeiro reparador do organismo?

Como as horas de somno são de repouso para o trabalho physico, claramente se vê que na relação entre o trabalho e a alimentação se tem de descontar n’este ultimo termo a parte que se refere ao tempo em que o individuo dorme. Quer dizer: o somno dispensa uma parte da nutrição e d’ahi ainda a verdade contida no rifão popular que diz: “quem dorme, come”.

D’aqui não se deve concluir, no emtanto, que pela alimentação se possa substituir a reparação devida propriamente ao somno.

Se dormindo se pode economisar uma parte da nutrição, é certo que por uma fatal imposição physiologica, o organismo animal, como o vegetal, precisa descansar, necessita, por um certo tempo, eliminar os productos toxicos resultantes do proprio trabalho do periodo activo e que não poderam ser expulsos durante esse lapso de tempo.

O somno é, d’esta fórma, duas vezes reparador: póde substituir uma parte da nutrição, e prepara o organismo para entrar, com a capacidade maxima, no labor que as necessidades organicas e as necessidades da vida em cada dia imperiosamente lhe exigem.


Referência bibliográfica

[n.d.] - "Actualidades - Pela Sciencia - A alimentação e o somno" in Diário dos Açores de 20 de Dezembro de 1907, nº. 4968, p. 1-2 (col. 6; 1). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=493.



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