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Texto da entrada (ID.530)

É do dr. Laumonier, conhecido especialista de doenças nervosas, o artigo que abaixo transcrevemos sobre a doença denominada modernamente cyclothymia, infelizmente tão vulgarisada entre as classes de vida sedentaria e d’intenso trabalho intellectual:

Quasi toda a gente, normalmente tem os seus altos e baixos. Hoje de bom humor, activos, resolutos, ainda hontem estavamos aborrecidos , deprimidos, vacillantes. É cousa que já poucas inquietações e cuidados nos causa, por estarmos habituados. São demasiado frequentes estas alternativas nos trabalhadores intellectuaes; conhecem-se as longas preguiças d’elles e a febril actividade que vem apoz estas crises de energia. (...)

Um medico da Salpêtriére, o dr. Deny, acaba de mostrar que se trata, na especie a que nos referimos, de uma doença particular, distincta da neurasthenia e a que deu o nome de cyclothymia as pessias que d’ella padecem, chamando-se cyclothymicos.

É bem certo, porém, que os phenomenos morbidos da crise apresentam todos os caracteres de certos estados neurasthenicos, ou melhor, da psychastenia. Por estes phenomenos só de per si, difficil é reconhecer á cyclothymia uma individualidade nosologica, bem nitida. Devemos confessar, porém, que estas crises apresentam particularidades que lhes são proprias, sendo duas d’ellas principaes, a instantaneidade e a regularidade. A depressão psychica apparece com effeito bruscamente, de um para outro dia, e o cyclothymico em crise nada se parece como cyclothymico do periodo de excitação.

(...)

Ha segunda differença: a regularidade, o cyclo periodico. Os “altos e baixos”, no homem normal, são irregulares, dependentes de causas que nem sempre se percebem, mas que uma investigação attenta e paciente permittiria descobrir. No neurasthenico, no psychasihenico, as oscillações da tensão psychologica, e de amplitudes egualmente variadas não teem tambem regularidade; dependem de circumstancias exteriores e de acções psychicas que o medico chega facilmente a distinguir. No cyclothymico, o caracter mais curioso das crises é a producção periodica quasi em datas fixas , sem que até agora se tenha sabido porquê. O dr. Deny cita um caso destes (...)

A terceira differença resulta do periodo de excitação cyclothymica, que não existe no neurasthenico, e ainda menos no psychasthenico, pela sua propria intensidade este periodo agitado distingue-se nitidamente dos momentos de simples euphoria, que podem experimentar, de tempos a tempos, no decurso do tratamento ou espontaneamente os neurasthenicos.

Enfim, o dr. Deny pensa que a cyclothymia é uma doença hereditaria, constitucional.

(o autor do artigo discorda e apresenta um caso)

(...)

Talvez se tenha, por conseguinte, de encarar a cyclothymia como um estado neurasthenico mais complexo mas mesmo assim curavel, pelo menos, em dadas circumstancias que as investigações ulteriores precisarão.


Referência bibliográfica

[n.d.] - "A Cyclothymia" in Diário dos Açores de 14 de Janeiro de 1910, nº. 5571, p. 1 (col. 1-3). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=530.



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