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Texto da entrada (ID.542)

A vontade não é senão uma manifestação do conjuncto de energias que se elaboram no nosso cerebro. D’este reservatorio de energias partem forças que actuam sobre os musculos e determinam a sua contracção; este processo é o “substratum” physico do que nós chamamos as manifestações da vontade.

Qualquer forma de trabalho, seja elle physico ou mental, causa um dispendio da energia armazenada no cerebro. Para reconstituir essa provisão de energia gasta pelo trabalho, o sangue fornece novos elementos nutritivos ás cellulas cerebraes.

Por este modo o complexo de forças reunidas no cerebro está sujeito a uma transmutação continua; dispendio de forças por um lado; acquisição de novas forças por outro.

Emquanto este processo de compensação entre as forças perdidas e as forças adquiridas pelo cerebro se produz normalmente, tambem a vontade funcciona de um modo normal. Pode porém acontecer que o mecanismo se altere, de modo que as forças adquiridas não consigam compensar as forças perdidas do cerebro. Neste caso a vontade fica submettida a uma serie de perturbações e de alterações e encontramo-nos perante um phenomeno que o dr. Stadelmann nos relata em um artigo do jornal allemão “Die Woche” e que se chama a “paralysia da vontade”.

Os esforços prolongados, o tabalho muito intenso esgotam as reservas de energia encerradas no cerebro, causando sempre de um modo mais ou menos grave uma paralysia da vontade, que de resto cessa assim que o descanço restabelece aquellas resservas.

Ha, porém, casos em que esta restituição das forças perdidas não se effectua immediatamente; durante muito tempo o individuo dispõe de uma reserva de energia inferior à normal e nesse caso a paralysia da vontade torna-se permanente.

Além de um excesso de trabalho, a paralysia da vontade pode ser produzida por certas doenças do systema nervoso, taes como a neurasthenia, o hysterismo e outras do mesmo genero.

A paralysia da vontade manifesta-se todas as vezes que se trata de tomar uma decisão ou de conseguir um fim determinado.

O individuo atacado de paralysia da vontade está sempre indeciso, perplexo com relação ao partido que deve tomar, mostra-se inconstante nas suas deliberações, sem perseverança nos trabalhos que emprehende.

Ás vezes, nos casos mais graves, não consegue tomar uma resolução das mais simples, como por exemplo a de se vestir ou de ir passear, etc.

Se o deixassem passaria o dia inteiro a devanear.

A pessoa que se acha reduzida a este estado não sabe reagir contra as influencias do ambiente exterior; deixa-se ao contrario dominar por elle e torna-se incapaz de mandar ou exercer uma auctoridade qualquer sobre os seus dependentes; descura os seus proprios interesses, torna-se incapaz de aproveitar as boas occasiões para progredir na sua profissão, e não sabe avaliar as situações.

Pouco a pouco acaba por se tornar ludribio e joguete dos outros.

Evitar-se-ha reprehender e cencurar as pessoas atacadas da paralysia da vontade pela sua indecisão e inercia, este systema seria não só injusto como até perigoso para o paciente e aggravaria o seu estado.

Vejamos pois o que se pode fazer para combater a paralysia da vontade.

O proprio paciente pouco ou nada pode contribuir para isso, mas não succede outro tanto com as pessoas que o rodeiam.

Em primeiro logar estão os remedios preventivos.

Aquelles que estão encarregados de educar creanças de constituição fraca, devem procurar de robustecer o seu organismo com exercicios physicos, pratica de “sports”, para lhes dar a tempera necessaria e tornal-as capazes de luctar victoriosamente contra as influencias do mundo externo.

A educação tambem tem diante de si um largo campo de acção. Aquelles que cuidam d’uma creança predisposta ao enfraquecimento das faculdades volitivas, não devem descurar os exercicios que podem avigorar a vontade e desenvolver o espirito de iniciativa. N’estes exercicios convem naturalmente proceder a pouco e pouco.

É preciso tomar cuidado e não impor á creança exercicios que a possam cansar demasiadamente: o cansaço é synonimo de esgoto das energias vitaes e provocando-o, occasiona-se precisamente a paralysia da vontade que se pretende evitar.

Quando a doença já se manifestou, deve procurar-se antes de tudo actuar sobre o organismo para lhe dar novas forças, por meio de descanso, alimentação muito nutritiva, banhos, maçagem, etc.

Deve-se actuar ao mesmo tempo sobre as faculdades psychicas, procurando infundir ao doente confiança em si proprio, incitando-o (sempre com doçura) a tomar decisões por sua conta e a emprehender trabalhos pouco fatigantes.

Só quando houverem melhorado as condições do doente e que tiver recuperado um pouco as forças perdidas poderá elle proprio procurar augmentar estas forças e luctar contra a doença.

Nos casos de paralysia nervosa dos membros, motivada por uma causa externa, será preciso tratar de remover essa causa. Pode ser muito efficaz neste caso a sugestão hypnotica, graças à qual se pode fazer esquecer o acontecimento que occasionou a doença.

O hypnotismo tambem dá bons resultados nos casos de paralysia geral da vontade.


Referência bibliográfica

[n.d.] - "Pela Sciencia - A paralysia da vontade" in Diário dos Açores de 31 de Janeiro de 1910, nº. 5585, p. 1 (col. 1-3). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=542.



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