A conferencia para a organisação dos serviços sismologicos – Não é possivel prevêr um abalo de terra – O estado actual dos sismographos – Diz-nos o sr. Choffat que os sismographos estão ainda muito imperfeitos
O nosso collega o Dia teve uma interessante palestra com o digno director dos serviços meteorologicos nos Açores, o illustre homem de sciencia, o sr. tenente coronel Chaves, que passamos a reproduzir:
Em um apendice ao Diario do Governo de 11 de dezembro ultimo foi mandada publicar, pela Direcção Geral de Instrucção Secundaria, superior e especial, uma serie de documentos muito interessantes, para o estudo preparatorio da organisação dos serviços sismologicos em Portugal e pelos quaes se vê que o violento abalo de 23 de abril do anno findo e a serie de reclamações que posteriormente se fizeram no parlamento e na imprensa sonseguiram despertas as estações superiores que superintendem n’estes assumptos.
Uma portaria publicada em 2 de dezembro determinou quem no corrente mez se reuna em Lisboa uma conferencia em que tomarão parte o director geral de instrucção secundaria, superior e especial, os directores dos observatorios de Lisboa, Porto, Coimbra e Açores e os vogaes da commissão nomeada por portaria do ministerio das obras publicas para estudar o phenomeno sismico que ultimamente devastou uma parte do paiz.
Essa conferencia effectuou-se hoje no ministerio do reino e n’ella tomaram parte os srs. conselheiro Agostinho Campos, conselheiro Paula Azeredo, director do observatorio metereologico do Porto, dr. Santos Viegas, director do observatorio de Coimbra, tenente-coronel Affonso Chaves, director do observatorio dos Açores, Campos Henriques, director do observatorio astronomico de Lisboa, e os sr. dr. Alfredo Bensaude e Paul Choffat, vogaes da commissão nomeada por portaria do ministerio das obras publicas.
Depois de concluidas as sessões da conferencia, será apresentado um parecer que abrangerá os seguintes pontos:
Plano de organisação do serviço de observações e estudos sismologicos em Portugal, comprehendendo a distribuição dos postos principaes e secundarios, e a escolha dos typos de intrumentos para uns e outros.
Applicação da verba consignada especialmente a este effeito no orçamento geral do Estado;
Opportunidade de qualquer pedido de novas auctorisações ás Cortes Geraes, pelo que respeita a material ou pessoal, tendo-se em vista a maior autoridade possível.
Como os nossos leitores sabem, porque já mais de uma vez o temos dito, apenas os observatorios meteorologicos de Coimbra e Açores possuem apparelhos registadores dos abalos de terra e como plano actual da organisação dos serviços sismologicos procura-se estabelecer no paiz numero sufficiente de estações ou postos, dotados com os instrumentos mais adequados. Para a melhor realisação d’este plano tambem a direcção geral de instrucção secundaria dirigiu uma circular aos directores dos observatorios existentes no paiz e ao director do “Bureau Central” de l’Association Internacional Sismologique, em que se fazia uma consulta para melhor elucidação do assumpto.
As respostas veem todas publicadas no referido appendice do Diario do Governo e mostra os bons desejos de que todos se animaram para a collaboração em tão importante obra.
Effectuou-se hoje a reunião preparatoria da conferencia, para o que se encontra ha dias em Lisboa o sr. tenente-coronel Affonso Chaves, illustre director do observatorio meteorologico dos Açores, que pela sua especial competencia em questões de sismologia, resolvemos procural-o para ouvirmos a sua opinião ácerca do que se tem conseguido nos ultimos tempos, com os processos de registar os abalos de terra.
O que nos diz o sr. Affonso Chaves
O illustre director do observatorio dos Açores regressou ha pouco tempo do norte do paiz, tendo estado no Porto e em Coimbra de visita aos seus collegas dos observatorios meteorologicos installados n’aquellas cidades.
Procurámos o eminente homem de sciencia no hotel Borges, onde se encontra hospedado, e alli fomos recebidos com a mais captivante amabilidade.
Feitos os nossos cumprimentos, o sr. tenente-coronel Chaves informa-nos de que a reunião preparatoria para a conferencia deverá effectuar-se hoje e que se tem procurado com a maior actividade dispor os trabalhos e discutil-os por uma forma pratica, que possa dar os resultados mais satisfatorios.
- Já não era sem tempo que em Portugal se fizesse alguma coisa, objectamos nós.
- Garanto-lhe que depois do terremoto de 27 de abril se tem empregado todos os esforços que se organisarem os serviços sismologicos do paiz e segundo espero, á medida que se forem realisando as sessões da conferencia mandada celebrar pela portaria de 2 de dezembro, ficarão assentes principios fundamentaes.
Conclue.
[n.d.] - "Serviços sismologicos em Portugal - Palestra com o director do observatorio dos Açores"
in Diário dos Açores
de 1 de Fevereiro de 1910, nº. 5586, p. 1 (col. 1-3). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=543.
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