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Divulgação Científica em Jornais



Texto da entrada (ID.567)

Annunciam os jornaes de Pariz que em menos de um mez se declararam n’um bairro d’aquella cidade oitenta casos de diphteria. O publico impressionou se extraordinariamente.

Pois que? Uma doença cuja causa conhecemos o bacillo, e cujo remedio descobrimos: o soro, é o triumpho da medicina scientifica, quinze annos decorreram já desde essa gloriosa conquista de que Loeffler, Roux, Behring foram os heroes, e parecemos ás vezes impotentes para extinguir um foco epidemico!

Sabe-se como o mal se transmitte. Conhece-se a maneira de o interceptar, de o cortar e, comtudo elle circula. Ha porventura ainda leis mysteriosas para nós?

Examinemos os factos que determinaram a hygiene e a prophylaxia anti diphtericas. São simples claros, e devem fazer parte dos conhecimentos geraes de toda a gente.

Quando Zoeffler, depois de ter descoberto o bacillo diphterico, o encontrou na bocca de individuos sãos, suppoz se que este micro organismo estava em toda a parte, falou-se da ubiquidade do bacillo diphterico como se fala da do bacillo da tuberculose: imaginou-se que estes microbios inoffensivos, estes pseudo diphtericos, estes dormentes, estavam sempre promptos a despertar e a manifestar a virulencia da sua raça desanimadora. Theoria! Pense se quão difficil é combater o inimigo que se dissimula por toda a parte!

Esta opinião foi abandonada. Os especialistas não creêm hoje na ubiquidade do bacillo. Vegeta, é certo, em muitos organismos sãos, mas esses organismos receberam-no sem duvida de um doente. Os pseudo bacillos diphtericos não se transformam em bacillos diphtericos verdadeiros; são sómente os verdadeiros que, passando de bocca em bocca, propagam a doença. A verdade, constatada em milhares de experiencias realisadas p. 2 em laboratorios especiaes, é a seguinte: 1º não se encontram bacillos toxicos em pessoas sãs que não tenham estado junto de doente, 2º esses bacillos encontram-se com frequencia nas proximidades do doente.

Raramente a diphteria se propaga pelos objectos inanimados; quasi sempre se effectua o contagio pelo contacto entre as pessoas.

Tomemos para ponto da partida um pequeno doente no seu leito. É claro que é preciso cuidar d’eççe desinfectar-lhe a roupa, os brinquedos, os livros, tudo aquillo de que se serve. Mas não é tudo.

Apenas curado, o doente volta á escola, põe-se em contacto com os seus companheiros. Tudo foi desinfectado, e comtudo na sua bocca existem ainda perigosissimos bacillos. 75% dos doentes conservam esses germens durante cerca de tres semanas ainda. Em 2% dos casos, os bacillos não abandonam a mucosa bocal antes de tres mezes. N’esses constatou em certos doentes essa presença até tres annos e mesmo oito.

(...)

Ha ainda uma cathegoria de creaturas inconscientemente perigosas.

Em certos meios ignorantes, ha affecções ligeiras a que ninguem pensa applicar o terrivel diagnostico. São constipações e defluxos vulgares, são anginas sem falsas membranas, “pelles”, como elles dizem, e onde não é raro encontrar o bacillo diphterico.

São estes individuos os que mais transportam a doença.

Quando se procura o bacillo, é preciso não examinar apenas a garganta. No nariz tambem vive tambem o terrivel agente, e espera, com paciencia o momento opportuno. Vem uma causa de enfraquecimento do organismo, e a microscopica fera a faca, apparece nas amygdalas, no céo da bocca.


Referência bibliográfica

[n.d.] - "A dyphteria - Como se evitam as epidemias diphtericas – Os “portadores de bacillos” – A hygiene preventiva" in Diário dos Açores de 21 de Fevereiro de 1910, nº. 5600, p. 1-2 (col. 6; 1). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=567.



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