Grande é o numero de pessoas que se queixam de não poder dormir. São as victimas das excitações artificiaes, os neurasthenicos, hystericos, hypocondriacos, os nevropathas de todas as especies. Em vão usaram e abusaram do opio, do chloral, da narceina, do somnal, do trional, do veronal, do sulphonal e de tantos outros medicamentos hypnoticos.
Ao somno pesado e passageiro de principio succedeu uma phase durante a qual a substancia perdeu todo o seu effeito, as dóses foram progressivamente augmentadas, sem por isso conseguir-se o menor resultado, mas correndo, entretanto, o risco de intoxicar o organismo.
De facto, só muito excepcionalmente devemos recorrer aos medicamentos para provocar o somno. E sem contar muito com os meios psychicos, preconisados aliás por muitos, poderá ser util, na occasião, empregar os meios propostos pelos hypnotisadores: fixação do objecto brilhante, pressões moderadas sobre a fonte. Mas não convêm confiar muito em taes recursos: a decepção não tardaria a vir.
Para dormir um individuo excitavel, deve fugir dos ruidos intensos das cidades, que nem mesmo durante a noite desapparecem e que lembram aos infelizes nevroticos seus trabalhos, occupações e obrigações mundanas.
Á fadiga physica e moral, consequencia inevitavel da vida a vapor da actualidade, é preciso oppor o somno que reparando os gastos nervosos, retempera as energias.
O dr. Regnault, em excelente artigo sobre este assumpto, falla nos mais enthusiasticos termos de um sanatorio especial, instituido pelo dr. Lemesle, para a cura pelo somno.
N’esse estabelecimento, os doentes, submettidos, antes de tudo, ás acções dos hypnoticos, dos meios psychicos depois, são, se não dormem, collocados sob a influencia de remedio mais efficaz: a luz azul.
O sr. Regnault lembra que os raios do espectro solar têm acção differente sobre o systema nervoso, que Lumiere, a quem a photographia deve tantos serviços, verificou que os seus operarios que trabalhavam em officinas de côr vermelha, tornavam-se nervosos e cansavam depressa, mas tal excitação desapparecia pela simples substituição da luz vermelha pela luz verde.
De facto, o vermelho é para o homem e os animaes a parte do aspectro a maus excitante, o verde produz certa tranquilidade, o roxo, anil e azul são calmantes.
Por isso o doente é tratado no tal sanatorio pela phototherapia.
As salas e quartos são forrados de azul e os vidros da mesma cor. Á noite, a luz electrica côa-se atravez de vidros azues das lampadas.
Permanecendo na luz azul, o nervoso sente desde logo que o turbilhão de ideias se modera, a calma se estabelece e, por fim, o somno reparador d’elle se apodera. Uma disciplina rigorosa para impor o silencio é observada em todo o estabelecimento; pequenos quadros impressos lembram, em todas as dependencias, a necessidade de ser evitado qualquer ruido inutil.
Vivendo em um tal meio, o doente só tem uma preocupação: dormir. E quanto mais prolongado fôr o somno, mais rápida será a cura.
Quanta gente que, mergulhada inteiramente na vida movimentada das cidades, encontraria em tal systema a cura completa de seus males!
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